sexta-feira, 15 de abril de 2016


15 de abril de 2016 | N° 18500
OLHAR GLOBAL | Luiz Antônio Araujo

O que há por trás da ameaça do EI ao Brasil?



A revelação, pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin), de que um dos porta-vozes do Estado Islâmico (EI) no Twitter, Maxime Hauchard, divulgou em novembro uma ameaça ao Brasil causou um misto de repúdio e sarcasmo nas redes sociais.

Por meio da conta @maximehauchard, o pretenso propagandista escreveu em francês, em novembro, segundo a Abin: “Brasil, vocês são nosso próximo alvo, nós podemos atacar esse país de m...”. Embora a mensagem tenha sido noticiada na época por veículos como a rádio francesa Tendance Ouest, somente ontem a agência confirmou-a por meio do diretor do Departamento de Contraterrorismo, Luiz Alberto Sallaberry.

Durante evento em São Paulo, Sallaberry afirmou que a ameaça terrorista contra os Jogos Olímpicos Rio 2016 cresceu nos últimos meses. Ele atribuiu o fenômeno a ataques ocorridos em outros países, como França e Bélgica, e ao que chamou de aumento do número de adesões de brasileiros à ideologia do EI. Sallaberry não apresentou, no entanto, evidências de que o grupo tenha sido bem-sucedido no recrutamento de brasileiros. 

Embora pelo menos um combatente de nacionalidade belga e filho de brasileira tenha comprovadamente se integrado ao grupo – Brian de Mulder, 22 anos, foi condenado no ano passado pela Justiça da Bélgica a cinco anos de prisão por envolvimento com o grupo –, não existem até o momento indícios da presença de brasileiros nas fileiras do EI na Síria ou no Iraque. Fontes da Abin, falando sob condição de anonimato, já haviam alertado para a exposição do país aos chamados “lobos solitários” – terroristas isolados que agem sob inspiração de grupos como o EI e a Al-Qaeda – durante o debate da Lei Antiterrorismo, aprovada em fevereiro pelo Congresso.

Ainda que grandes eventos como Rio 2016 e Copa do Mundo tenham colaborado para promover a imagem do Brasil no Exterior, EI e Al-Qaeda não têm o costume de atacar nessas ocasiões, quando a presença de chefes de Estado, delegações estrangeiras e turistas normalmente é acompanhada de reforço na segurança. Se o objetivo do grupo fosse atingir alvos brasileiros – uma hipótese altamente discutível, dado o histórico e a situação atual do EI –, tentar fazê-lo em junho no Rio seria apostar no fiasco.

A mensagem divulgada pela Abin mostra que seu autor não sabe sequer qual idioma é falado no Brasil, tornando-a inócua mesmo para fins de recrutamento.

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