13 de abril de 2016 | N° 18498
MARTHA MEDEIROS
Sua majestade, o dinheiro
Diante dos fatos, a vergonha. Vergonha pelas alianças sem critério, pelos acertos por baixo dos panos, pelos conchavos, pela desfaçatez com a qual ninguém se constrange mais. Governantes cometem indecências para garantir sua boquinha e a corrupção, que é a verdadeira inimiga de todos nós, segue pouco discutida.
Como e quando a corrupção irá acabar?
Se a Lava-Jato fosse uma operação permanente de combate à impunidade, a corrupção talvez diminuísse um pouco, pois sempre tem um ou outro que amarela quando cogita ir para a cadeia. Mas o mais provável é que surjam novos e sofisticados métodos de roubalheira – o ser humano é criativo. Será que não existe um jeito de cortar a corrupção pela raiz?
O primeiro passo é lembrar qual é a raiz da corrupção: o dinheiro.
O segundo passo é acreditar em conto de fadas. O empresário Ricardo Semler deu uma ótima entrevista para a Globonews, em que declarou que só há uma maneira de acabar com a corrupção no Brasil e no mundo: modificando nossa relação com o dinheiro.
Talvez ele também acredite em príncipes e princesas, mas por mais idealista que seja, não há como discordar. Por que as pessoas corrompem e são corrompidas? Para obterem vantagens – quase todas envolvendo dinheiro ou poder.
Em um mundo ideal (portanto, irreal), as pessoas receberiam pelo seu trabalho um valor justo para garantir suas necessidades e estaria ótimo assim. Se seu trabalho rendesse mais do que elas precisam, beleza – elas teriam acesso a supérfluos, o que não é pecado, desde que esteja tudo dentro da lei, sem precisar burlar contratos ou molhar a mão alheia. Se valorizássemos as principais qualidades humanas, ninguém precisaria fazer besteira para parecer mais importante do que é.
Como se mede a importância de alguém? Pela ética. Pela compaixão. Pela honestidade. Pela competência.
Isso no reino da fantasia, pois aqui, neste mundo pirado e competitivo, as pessoas medem a importância uma das outras por metro quadrado, por cavalos no motor, por dólares no Exterior, por técnicas farsescas de sedução, pelo que está escrito no cartão.
Não basta ter reais suficientes. Queremos realeza.
Mas em vez de nos sentirmos soberanos através do número de amigos que fizemos, através da credibilidade conquistada, através de nossas vitórias profissionais e emocionais, queremos é sentir o gostinho de estacionar onde bem entender, de voar pelas estradas sem ninguém nos alcançar, de receber tratamento VIP, de sermos vistos como diferenciados, criaturas acima do bem e do mal. Para que esperar merecermos coisas boas da vida se podemos comprar as extraordinárias?
A corrupção só terminará quando o dinheiro deixar de ser usado para mascarar nossa miséria existencial.
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