19 de abril de 2016 | N° 18503
LUÍS AUGUSTO FISCHER
EU QUERIA ESTAR AÍ
Não é brincadeira: eu queria estar aí, exatamente neste momento em que o prezado leitor corre os olhos por estas linhas e páginas, respirando e quem sabe tomando um café, preparando o espírito para os novos dias, que começaram anteontem.
Domingo, exatamente anteontem. Algo aconteceu. Algo quebrou. “A crack in a tea cup opens a lane to the land of the dead”, começava um artigo do Paulo Francis, ainda no auge de sua inteligência, muito tempo antes de ser um reacionário ridículo. O sensacional artigo, reunido no livro Certezas da Dúvida – emprestei para alguém que não o devolveu –, lembrava deste verso de Auden, “Uma rachadura na xícara de chá abre um caminho para a terra dos mortos”, mais ou menos isso.
Os tempos e as nações eram outros. Algo que quebrasse podia ser comparado a xícara de chá e só por isso insinuar o Império Britânico todo. Mas e isso que ocorreu em Brasília, como simbolizar?
Escrevo cá na quinta-feira, uma eternidade antes de domingo. Por motivos da rotina do jornal, estou circunstancialmente incapacitado de saber se Temer e Cunha a essa hora já estabeleceram as bases de seu governo – conseguirão mesmo dessorar o combate à corrupção, palavra e problema por sinal ausentes do discurso precoce vazado na semana passada? –, ou se Dilma ainda respira no cargo para o qual foi eleita – terá como refazer o ritmo e a feição da história recente e organizar um novo governo, sem o vergonhoso balcão de negócios e com horizonte adequado?
E o Faustão: como ficou a cara dele falando do resultado? O Fantástico reportou como a coisa toda? Quem não continha a alegria pelo resultado? Cá na quinta-feira, cinco dias atrás, bá, que inveja do prezado leitor aí.
Boa sorte para nós todos.
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