sexta-feira, 15 de abril de 2016


15 de abril de 2016 | N° 18500 
NÍLSON SOUZA

EIS A QUESTÃO


Quatrocentos anos depois da morte de William Shakespeare (23/04/1616), suas histórias de ganância, conspiração, vingança e corrupção continuam atualíssimas. Macbeth, que traiu o seu rei e o seu melhor amigo para conquistar o poder, teria lugar assegurado na linha de sucessão presidencial em nosso país, mas suaria o sangue de suas mãos para encarar tão poderosos rivais. E o Rei Claudius, que envenenou o irmão Hamlet para tomar-lhe a mulher e o trono, o que não faria por um desses cargos que estão sendo oferecidos a rodo no primeiro escalão? Já o mentiroso Iago, que levou Otelo a assassinar a própria esposa, seria o homem perfeito para uma estrondosa delação premiada.

Vilões não nos faltam.

Falta-nos, talvez, a inventividade do bardo inglês, que criou mais de mil personagens, todos à nossa imagem e semelhança. Suas criaturas envolviam-se em aventuras escabrosas, matavam-se por nada e morriam atormentados pelo remorso. Mas também amavam e se divertiam. “O mundo é um palco e todos os homens e mulheres são meros atores” – ensinava.

Somos mesmo, a maioria canastrões. Basta ver o circo em que se transformou o Congresso Nacional nas sessões de votação do impeachment, nesta semana. Suas excelências baixaram o nível do debate, gritaram muito uns com os outros, cada um tentando impor suas ideias sem ouvir o que tinham a dizer aqueles que pensavam de maneira diferente. E eles nos representam, não adianta fingir que não é conosco.

Ainda não sabemos se esse episódio do impeachment vai acabar em comédia ou tragédia, mas basta um levantamento parcial para se constatar que já produziu personagens suficientes para uma história nacional da vilania. E nem é preciso encontrar um Shakespeare para escrevê-la.

Os próprios atores desse teatro do absurdo estão fazendo isso com manifestações impensadas, discursos inflamados, gravações voluntárias e grampos telefônicos. Basta ouvi-las para se concluir que há algo de podre no reino do Brasil. Resta saber se, como preconizou o poeta inglês num de seus raros momentos de otimismo, dias melhores virão.


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