quinta-feira, 21 de abril de 2016



21 de abril de 2016 | N° 18505 
DAVID COIMBRA

Não vote em Bolsonaro

Ainda sinto certo enjoo quando penso no voto obsceno do Bolsonaro no julgamento do impeachment de Dilma. Sei que é tema já sovado, mas talvez nem todas as pessoas compreendam a extensão do significado de sua atitude, e aquilo realmente me fez mal.

Na segunda-feira, o entrevistamos durante o Timeline, da Gaúcha. Obviamente, travei discussão com ele. Bolsonaro é um demagogo do pior tipo. É cínico, e acha que é malandro. Não é. Não passa de uma pessoa truculenta e grosseira.

Jean Wyllys cometeu grande erro ao cuspir nele. Não apenas devido à cusparada em si, atitude inaceitável para um parlamentar, sobretudo dentro do plenário, e mais ainda durante uma sessão transmitida para o mundo inteiro. O erro mais grave de Wyllys foi ter transformado Bolsonaro em vítima.

Desferida a cusparada, Wyllys atirou-se no meio de uma polêmica que não era sua. Ele embaçou a discussão acerca do crime cometido por Bolsonaro.

Porque no Brasil de hoje é assim: você critica o erro de um personagem de um lado e logo um apoiador desse personagem já vem tremulando o erro de um personagem do outro lado.

Quando critiquei Bolsonaro, recebi fotos de Lula acompanhado de ditadores que promoveram tortura e repressão.

E daí? O fato de Lula ter errado, de Wyllys ter errado e de outros tantos errarem atenua o erro de Bolsonaro?

Não. Não atenua. Por isso, vou me ater a Bolsonaro, que, já disse, me causa engulhos.

Bolsonaro homenageou um monstro. Esse coronel Ustra era conhecido nas salas de tortura como Doutor Silva ou Doutor Tibiriçá. Era o mais cruel dentre aqueles homens cruéis. E covarde, como o são todos os torturadores – afinal, um torturador é alguém que avilta e sevicia uma pessoa indefesa. Pode haver ato mais sórdido?

O “Doutor Tibiriçá” está relacionado com pelo menos 60 mortes ou desaparecimentos. Sob seu comando, cerca de 500 pessoas foram torturadas. Para ele, infligir sofrimento a outros seres humanos era tão natural, que se tornou motivo de orgulho, a ponto de ele levar familiares para visitar os porões do DOI. Sua filha pequena brincava em meio aos supliciados.

Foi esse homem que Bolsonaro elevou, durante seu discurso. Ou seja: ele o admira. Ou seja: os dois são iguais. Se pudesse, Bolsonaro faria o que Ustra fez.

Li que Bolsonaro tem 12% das intenções de voto para presidente, nas últimas pesquisas eleitorais. Entendo esse possível voto como uma mescla de desconhecimento com desespero. Desespero porque a maioria dos brasileiros quer se ver livre de tudo o que se assemelhe de leve ao PT. Desconhecimento porque os brasileiros simplesmente não sabem quem é Bolsonaro. Entendo que as pessoas estejam inseguras, mas Bolsonaro não é a solução para a insegurança. Entendo que os brasileiros estejam detestando o PT, mas Bolsonaro não é o contrário do PT. Bolsonaro é o contrário da sensatez, da civilidade e da hombridade. É um tipo menor da política brasileira. Não cuspa nele, nem sequer vire o rosto em sua direção.

Homem que é homem não vota em Bolsonaro. Mulher que é mulher não vota em Bolsonaro. Seres humanos decentes, que sentem o mínimo de respeito por outros seres humanos, não votam em Bolsonaro.

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