sábado, 9 de abril de 2016



09 de abril de 2016 | N° 18495
PALAVRA DE MÉDICO | J.J. CAMARGO

CÂNCER DE PULMÃO: AS PISTAS PARA O DIAGNÓSTICO


Não existem sintomas específicos para o câncer de pulmão, e o fato de o fumante frequentemente também ter bronquite e enfisema como patologias associadas, e com origem comum no tabagismo, só faz aumentarem as dificuldades diagnósticas.

Mas alguns sinais e sintomas precisam ser depurados para que não se perca a oportunidade de diagnosticar um câncer ao primeiro sinal. Nessa luta contra o tempo, a protelação pode ser fatal.

Se você pertence à população de risco por fumar uma carteira de cigarros ou mais por dia, há mais de 20 anos, fique atento aos seguintes indícios.

- Escarro com sangue. Ainda que a causa mais frequente de escarro sanguinolento seja a exacerbação da bronquite, não aceite passivamente essa hipótese, mesmo que o seu médico, com a suposta intenção de ser simpático, lhe ofereça esse diagnóstico. Nem se iluda que o sangramento possa ter decorrido da ruptura de alguma veiazinha na garganta, mesmo que um médico lhe diga isso. Não há veias para romper na garganta e mesmo uma tomografia normal não dispensa a realização de uma broncoscopia. É deprimente receber pacientes com tumores incuráveis que contam que escarraram sangue há um ano e a queixa foi subestimada.

- Mudança do caráter da tosse. Se a sua tosse mudou porque, além de tossir mais, segue tossindo muito depois que já limpou todo o catarro, cuidado. Isso pode significar que a tosse está sendo provocada por algo não expectorável. Outra vez, a broncoscopia é intransferível.

- Os fumantes têm mais pneumonias do que os não fumantes. Um conselho importante: um mês depois de tratada uma pneumonia supostamente banal, faça uma radiografia de controle para comprovar que ela reabsorveu completamente. A persistência de alguma alteração pode ser o sinal de que ela foi provocada por um tumor no brônquio. Não espere a repetição da pneumonia, que sempre recorre nessa situação, porque esse tempo perdido pode ser fatal.

- Dor torácica. Não atribua todas as dores às distensões musculares. Se a dor persistir por mais de duas semanas, faça uma radiografia de tórax.

- Observe seus dedos. Unhas arredondadas e extremidades parecendo baquetas de um tambor podem ser um dos sinais precoces de tumor de pulmão.

- Emagrecimento progressivo, rouquidão persistente, edema da face e ínguas no pescoço são outros sinais sugestivos da doença.

A crença popular equivocada de que câncer não tem cura é filha primogênita do diagnóstico tardio. O aumento do percentual de tumores operáveis é ainda o único caminho para melhorar a chance de cura do tumor que mais mata homens no mundo todo.

A busca de diagnóstico precoce (screening), popularizada em todo o mundo, revelou que a população fumante ou ex-fumante, na faixa etária de 55 a 74 anos e com história de tabagismo de pelo menos 30 maços-ano (o que significa um maço por dia durante 30 anos, dois por dia por 15 anos etc) tem benefício de submeter-se a uma tomografia anual de pulmão. A moderna tomografia, com baixa dose de irradiação, foi disponibilizada para esse fim. O objetivo, obviamente, é a detecção de tumores precoces, estimulada pela observação de que as lesões operadas em estágio I (tumores menores que 3cm) são curáveis pela cirurgia em mais de 80% dos casos.

Incrementar o grau de suspeição diagnóstica é também uma tarefa de pacientes bem informados. Não deixe escapar esta chance. Ela pode ser a última.

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