quinta-feira, 7 de abril de 2016



07 de abril de 2016 | N° 18493 
LUCIANO ALABARSE

COERÊNCIA, ARTIGO RARO


Doença ou vacina, intolerância ou equilíbrio: nossas palavras falam por nós. Dependendo do momento e do lugar, argumentos distorcem fatos, sempre em benefício próprio. Pouco praticada no Brasil, a discussão dialética é exercício recomendado aos conflitos do momento, pois os sofistas pátrios rapidamente se adaptam às circunstâncias políticas que sacodem o país. Sou totalmente contra a demonização das diferenças.

Estão muito parecidos os discursos da direita e da esquerda nacionais. Coerência hoje é artigo raro. Aferrados em legalismos de ocasião, esquecem rapidamente o que ontem defendiam com ardor. É possível admitir qualidades em adversários ou a lei só é válida quando traduz nossos interesses? Sou totalmente contra a demonização do Judiciário.

Ministros do Supremo afirmaram: golpe e impeachment, desde que cumpridos os ritos constitucionais, não são sinônimos. Que se apurem, pois, todas as acusações que pairam sobre a presidente. Se tiver de receber pedradas, que venham pedras pelos motivos que defendo: diante do quadro sucessório iminente, capitaneado por políticos sob a mira da justiça, detentores, alguns, de contas milionárias no Exterior, é pior para o Brasil a destituição de Dilma. Mas ela que pare de culpar a mídia pela sucessiva desorientação de seus atos. Sou totalmente contra a demonização de Dilma Roussef.

Quando, em 2013, Edward Snowden divulgou dados confidenciais do governo americano, inclusive em relação ao palácio do Planalto, a esquerda brasileira o saudou como um herói que prestara “serviços à humanidade”. O jornalista Hélio Schwartsman pergunta: “Em que a atitude do juiz Moro difere da de Snowden?”. Como cidadão, agradeço o conhecimento de todas as conversas por ele liberadas. Sou totalmente contra a demonização de Sérgio Moro.

Javier Marías, ao final do segundo volume da trilogia Seu Rosto Amanhã, leitura obrigatória, afirma: “Broncos mundanos há aos milhares e não param de aumentar”. Chegamos aonde chegamos. E agora?

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