segunda-feira, 4 de abril de 2016



04 de abril de 2016 | N° 18490
EDITORIAL

A POLÍTICA ENFERMA


A situação só atingiu níveis de deterioração tão elevados porque o sistema eleitoral no país é um desastre, como definiu o ministro do STF.

Numa manifestação sem meias-palavras, por imaginar que estava se dirigindo a um público restrito, o sempre ponderado ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal (STF), acabou fazendo uma síntese dura, mas realista, da situação política no país. Ao se dirigir a um grupo de alunos, e sem se dar conta de que o encontro estava sendo transmitido pelo sistema interno do STF, o ministro despertou mais atenção pelas críticas ao PMDB como alternativa de governo, pouco depois do anúncio da saída do partido da base de apoio da presidente Dilma Rousseff. Ainda assim, o magistrado acertou mesmo quando definiu a política brasileira como gravemente enferma, advertindo que, por isso, precisa mudar.

Como argumentou o ministro, numa sociedade democrática, a política é um gênero de primeira necessidade. Quando olham em volta, porém, os brasileiros têm razões de sobra para se sentirem indignados e contaminados por essa enfermidade, que nos últimos meses parece ter transformado o jogo do poder numa novela policial.

A presidente da República, pressionada por um processo de impeachment que dificulta qualquer ação por parte dela para tirar o país da crise, não consegue sequer fazer um ex- presidente assumir a Casa Civil, devido a denúncias de toda ordem no âmbito da Lava-Jato. Ao mesmo tempo, seu vice e os presidentes das duas Casas legislativas mostram-se a cada dia mais desgastados por suspeitas de irregularidades, que também não poupam nomes de peso da oposição, à qual caberia o papel de apontar alternativas.

A situação só atingiu níveis de deterioração tão elevados porque o sistema eleitoral no país é um desastre, como definiu o ministro do STF. Dispendiosas – o que transformou durante muito tempo políticos em verdadeiras marionetes de grandes corporações –, campanhas nos moldes atuais fazem com que os brasileiros não tenham como cobrar dos eleitos. E, o que também é grave, contribuem para que os eleitos não saibam a quem prestar contas.

Independentemente dos rumos que o país está para definir agora, haverá poucas mudanças sem uma reforma capaz de curar a política. É urgente a definição de propostas que enfrentem de vez essas e outras questões essenciais para a sociedade.

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