sexta-feira, 4 de março de 2011


Jaime Cimenti

Paulo Fontoura Gastal

Esses dias participei, com dezenas de pessoas da área cultural, de evento promovido pelo governador Tarso Genro e pelo secretário da Cultura Luiz Antônio de Assis Brasil. Falamos de muitas coisas e assuntos importantes: cultura, Mercosul, Fórum Social, para citar apenas os exemplos mais marcantes.

Escrevo estas linhas para dizer que cometemos um esquecimento e aqui pretendo, modestamente, repará-lo. Não falamos de Paulo Fontoura Gastal, aquele homem que de uma forma ou outra deu espaço e forneceu inspiração para a maioria ou totalidade de pessoas que estavam ali.

Gastal personifica o que de melhor tem a cultura gaúcha. Quando cheguei em casa naquela noite, me dei conta de que deveria ter dito que, quando se pensa em cultura, diversidade, liberdade, pluralidade, jornalismo competente e ético e outras coisas essenciais, deve-se sempre lembrar daquele homem tímido, chapliniano, discreto e correto que passou a vida nas redações e nas salas de cinema. A “mesa do Gastal” na redação do Correio não era apenas o posto de trabalho do maior crítico de cinema que tivemos.

Era onde a cultura gaúcha e universal pousava: cinema, teatro, música, coral, livros, festivais, Feira do Livro etc, e depois alçava grandes voos. Gastal sozinho editava um dos maiores suplementos culturais do Brasil na época, o lendário Caderno de Sábado.

Dava espaço aos novos e aos consagrados e procurava ser o mais democrático e plural possível, mesmo em tempos difíceis como foram os anos de chumbo. Sabia que o tempo era o melhor juiz, que era preciso dar oportunidades aos que estavam começando. Sabia que a arte é longa e a vida é curta.

Desculpe aí, Gastal, se não falamos de ti no encontro. Talvez nem precisássemos falar, pois tu sabes que vives dentro de nós e nunca foste de aparecer por aparecer. Vives em nós que tanto te lembramos, admiramos e que tanto te devemos.

Aí em riba, caminhando em direção ao infinito como nos finais dos filmes de Carlitos, sabes bem que a gente só morre depois que ninguém mais lembra da gente e que são ilimitadas as luzes da ribalta. Então, vida longa, campai, Calvero, Acácio, P.F., pai do Ney, esposo da querida Diná e homem de cultura incomparável. Desculpe a gente não dizer que não te esqueceu. Nem precisava, né?

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