sexta-feira, 1 de abril de 2011


DAVID COIMBRA

Como acabar com a corrupção

Alguém algum dia já tentou comprar você? Porque é muito fácil não se vender, se ninguém quiser comprá-lo. Então você fica aí, criticando os corruptos, posando de honesto. Mas você já foi tentado e resistiu à tentação? Já afastou de si milhões que poderia ter enfiado nas meias? Já dispensou mulheres de pernas longas e saias curtas que bateram à porta de seu quarto de hotel com um meio sorriso à meia-noite?

Eis a questão.

Os políticos brasileiros são mais corruptos do que os outros, parece. Por quê? Será o brasileiro uma raça com tendência genética à corrupção? Você acredita em algo assim? Você acredita em “raça”?

Nada disso. O político brasileiro é mais corrupto porque é confrontado com mais tentações. Porque o sistema político brasileiro é todo fundamentado em torno de uma única palavra:

EMPREGO.

Os partidos políticos brasileiros não são grupos ideológicos. Não existem para implantar projetos ou programas. Os partidos políticos brasileiros são agências de emprego. Quando um partido elege um governador, sabe que atrás dele virá uma fieira de vagas no serviço público.

Ninguém, no grupo que se empenhou na eleição, pensa que finalmente poderá fazer valer as suas ideias. Eles trabalharam pensando na recompensa: os cargos. Então, um governador deve vagas de emprego aos candidatos a deputado que lhe carrearam votos em suas comunidades, assim como os deputados devem vagas de emprego aos seus cabos eleitorais.

O cabo eleitoral pode ser, digamos, um presidente de associação de bairro que tem 50 votos na vila em que mora. Ele diz a esses 50 eleitores em quem votar. Em troca, espera receber um empreguinho depois da eleição. É para ele que o deputado vai ao governador pedir um cargo.

É nesse sentido que gira a roda da política brasileira. Um partido é tão grande quanto o número de postos de emprego de que dispõe. Terminadas as eleições, os políticos ficam disputando essas vagas, cada qual tentando acomodar seu apaniguado. Algo angustiante para o político.

Ele sabe que, se não conseguir um empreguinho com um salário razoável para seu cabo eleitoral, perderá aquele maço de votos na próxima eleição. Por isso, quando os políticos brigam entre si, é porque alguém ficou sem emprego, não por alguma ideia.

A possibilidade que os partidos têm de distribuir empregos é a engrenagem da corrupção. É a mercadoria com que os políticos negociam. É o que os faz existir e respirar. Ficha limpa, câmeras escondidas, pelotão de fuzilamento, nada saneará a política brasileira enquanto os governos tiverem tanto poder.

Não é um pensamento liberal. Não. O Estado brasileiro não precisa diminuir; o governo, sim. De quantas vagas no serviço público dispõe o presidente do Brasil? Dezenas de milhares, e Lula, nos últimos oito anos, abriu outras dezenas de milhares que não existiam.

De quantos empregos dispõem o primeiro-ministro britânico e a chanceler alemã? Não chegam a 40. O Estado pode ser uma máquina independente do fisiologismo do governo e da ganância da iniciativa privada, desde que seja um Estado realmente profissionalizado. Desta forma, corta-se ao meio a corrupção. Porque ninguém se vende se não houver comprador.

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