quarta-feira, 2 de março de 2011



02 de março de 2011 | N° 16627
DIANA CORSO


Histórias de amor impossível para fantasiar

Na chamada de capa de uma revista feminina anunciam-se: “Histórias de paixão proibida para ler e fantasiar”. Decepção, os casos contados são menos empolgantes do que o título promete. Mas é uma publicação bem comportada, não deveria esperar fantasias lúbricas.

Um padre que largou a batina, um patrão solteirão, um primo mais jovem, todos terminando em casamento e era isso. Quando desmascarada, uma história sempre perde o encanto, por isso jamais saberemos se Capitu traiu, essa é a magia de Machado.

Mas porque a revista não disse: histórias para ler e vivenciar? A resposta está no caráter das fantasias, sejam de amor, vitória ou vingança: são mais para ser imaginadas do que realizadas. Acrescenta-se a isso o fato de o amor ser muito mais romântico e o sexo mais perfeito na fantasia do que na prática.

Na vida real toda história de amor se assemelha ao trabalho: ela é feita de persistência, tolerância, diplomacia e dedicação mútua. O ser amado tem ritmos próprios para comer, dormir, gosta de fazer amor de certa forma, você imaginou outra coisa, ou isso mesmo com uma coloração distinta. Um dos dois vai ter que se adaptar, ou, provavelmente, ambos.

Já na fantasia, essa que nutrimos para uso privado, em devaneios e sonhos, somos os diretores da cena e os produtores trabalham febrilmente para criar o ambiente que nos convém. Os atores servis desempenham o papel com rigor e nem é preciso editar, a cadência dos acontecimentos já nasce perfeita. A fantasia é o que o cinema gostaria de ser quando crescer.

Num filme agora clássico, As Pontes de Madison (Clint Eastwood, 1995), a protagonista é uma italiana, mulher de meia idade, que encontrou um amor tranquilo com um homem do interior dos EUA, onde ela construiu uma vida convencional.

Num intervalo de quatro dias, nos quais sua família se ausentou, uma paixão proibida arromba sua vida sob a forma de um charmoso fotógrafo cosmopolita, de passagem pelo vilarejo. Ela fez suas escolhas, ponderando que o amor que tinha pelo marido se interrompido se destruiria, enquanto que o que nutria pelo amante se vivido sucumbiria.

O charme dessa história de paixão madura está em que até o fim da vida esses amantes dedicaram o melhor de seus pensamentos a esse encontro perfeito e fugaz. A fantasia é acompanhada uma superioridade técnica que a realidade jamais poderá equiparar. Se vivemos para uma, perderemos a outra, ou teremos o corpo numa enquanto a cabeça devaneia em outra. São escolhas. Sempre.

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