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terça-feira, 1 de março de 2011
01 de março de 2011 | N° 16626
LUÍS AUGUSTO FISCHER
Francis na tela
A morte e o debate crítico são inimigos irreconciliáveis. Na hora em que choramos alguém não existe serenidade que ilumine o julgamento, porque tudo é emoção e transbordamento, e assim tem que ser.
A morte de Moacyr Scliar o colheu em plena atividade, certamente com muitos projetos, que ele ainda realizaria com afinco e talento – e quem pode saber como seria sua obra caso um desses projetos fosse o embrião da obra total, definitiva, revolucionária?
Se assim ocorreu com nosso Scliar, que faleceu aos 73 anos bem vividos e produtivos e foi um sempre cordial cidadão, o que se poderá dizer de Paulo Francis, que morreu aos 66 anos, vividos em intensa vibração, mas deixou obra irregular, sabidamente incompleta e mal editada, e marcada por um elã combativo e polêmico, raiando pelo inconveniente algumas vezes? Ainda agora, passados mais de 10 anos de sua morte, é difícil fazer um balanço sereno.
Essa dificuldade aparece inteira no documentário dirigido por Nelson Hoineff, Caro Francis, que passou nos cinemas de modo rápido e agora pode ser apreciado em DVD com mais calma.
Leitor do Francis que sou há três décadas, tive a sensação ruim de que o diretor esqueceu a trajetória intelectual e focou quase que apenas no episódio de sua morte, cercada de problemas como foi – há desde um aparente erro de avaliação médica até o quadro geral de um processo movido contra ele por dirigente da Petrobras, que com boas razões resolveu processá-lo, exigindo uma indenização milionária –, de tal forma que o jornalista, o crítico cultural e o romancista perderam a chance de ganhar nitidez.
Pelo documentário, ficou de Francis a figura de um pateta, uma imagem fraca, muito distante da força que Francis teve no debate público brasileiro, dos anos 1970 aos 1980.
Quem pontifica, entre os depoentes, são quatro figuras – os jornalistas Lucas Mendes e Daniel Piza, o escritor e intrigante profissional Diogo Mainardi e a viúva Sônia Nolasco – nenhuma delas, porém, no que aparece na tela, capaz de dar dimensão e perspectiva adequadas à obra do falecido.
Folclorizou-se o que já de si era folclórico (o Francis falastrão e caricato da tevê, ou o Francis já decadente da crise com a Folha de S. Paulo), negligenciando-se a contribuição crítica dele no plano público.
Quase nada se disse sobre o excelente analista internacional e memorialista, que é possível conhecer em livros como Certezas da Dúvida e, o meu predileto, O Afeto que se Encerra. Os leitores de Francis têm bons motivos para ver o DVD, mas temo que quem só o conhece pela tevê vai permanecer com a imagem trivial que lá se configurou, o que é uma pena.
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