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quinta-feira, 6 de novembro de 2008
06 de novembro de 2008
N° 15781 - PAULO SANT’ANA
O racismo é aqui
Eleger-se um presidente negro nos Estados Unidos é fácil. Eu quero ver é eleger-se um presidente negro no S. C. Internacional, onde não há conselheiros negros.
Ou no Grêmio, onde também não há conselheiros negros.
Se existirem negros nos Conselhos Deliberativos do Internacional e do Grêmio, são menos de três.
Isso dá razão a alguns sociólogos que sempre insistiram em que o Brasil é muito mais racista que os Estados Unidos.
Pelo seguinte fato: admite-se que haja racismo nos Estados Unidos. Já aqui no Brasil, ninguém admite que haja racismo.
E no entanto nunca se ouviu falar de um almirante ou de um brigadeiro negro no Brasil. General deve haver raros.
Esses dias apareceu um ministro do Supremo Tribunal Federal brasileiro negro. Mas também é muito raro.
Eu dou um prêmio para quem me trouxer aqui no jornal um síndico de edifício negro. Deve haver, se se for catar bem, mas é muito raro.
Caixa de banco negro também é muito raro.
Juízes e promotores negros são muito raros. Corretores de imóveis negros são raríssimos.
Eu nunca vi na minha vida um agente funerário negro. No entanto, entre os coveiros dos cemitérios se vêem muitos negros.
Médicos negros são praticamente inexistentes. Aqui e ali, um que um. Cirurgião plástico negro, nunca haverá no Brasil.
Alguém já viu, por exemplo, um psicanalista negro? Eu nunca vi sequer psiquiatra negro.
E para que não me acusem de corporativista, um dos setores mais racistas da sociedade brasileira é o jornalismo: entre em qualquer redação de jornal e há em atividade 200 brancos para um negro.
O negro em jornalismo é só contratado para disfarçar.
Nós não gostamos que se diga que o Brasil é um dos países mais racistas do mundo. Mas é.
E o Rio Grande do Sul é o Estado mais racista do Brasil.
Tanto que o primeiro governador negro gaúcho não foi Alceu Collares, foi o deputado Carlos Santos, que era presidente da Assembléia Legislativa gaúcha.
E ele assumia o governo do Estado sempre que os governadores viajavam.
Um dia, de madrugada, ele morava aqui na Azenha e o telefone de sua casa estragou.
Ele saiu de pijama e foi tentar telefonar na 2ª Delegacia de Polícia.
Quando dois policiais fardados que estavam na porta o viram, reconheceram-no e foram levá-lo com gentileza até o delegado.
O delegado, se espreguiçando, viu o deputado Carlos Santos entrando de pijama na sua sala, custodiado por dois policiais, e perguntou: – O que é que tu já andaste aprontando por aí, negrão?
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