terça-feira, 4 de novembro de 2008



04 de novembro de 2008
N° 15779 MOACYR SCLIAR

Os brasileiros como leitores

A Feira do Livro de Porto Alegre, inaugurada no último fim de semana, traz de volta perguntas classicamente formuladas nesta época: como está a situação da leitura no Brasil? Os brasileiros lêem ou não lêem? O que lêem? Como lêem? Por que lêem?

Durante muito tempo as respostas a estas perguntas eram baseadas em suposições. Isto mudou. Recentemente foi lançada, pela Imprensa Oficial de São Paulo e pelo Instituto Pró-Livro, uma importante obra, Retratos da Leitura no Brasil, organizada por Galeno Amorim,

que tem uma extensa experiência na coordenação pública do setor do livro no Brasil e foi secretário de Cultura em Ribeirão Preto. Trata-se de um estudo estatístico, realizado sobre uma amostra de mais de 5 mil pessoas em 311 municípios.

Foram considerados leitores pessoas que, entrevistadas, declararam ter lido pelo menos um livro nos três meses anteriores. De acordo com este critério, e generalizando a partir da amostra, conclui-se que 95 milhões de brasileiros, mais da metade da população, são leitores.

Não é o ideal, mas é um avanço para um país, no qual, à época de Machado de Assis, 90% das pessoas eram analfabetas. Na lista dos países que mais publicam livros ,o Brasil está num nada mau 11º lugar.

E será que os brasileiros gostam de ler? 41% disseram que gostam muito de ler, 46% gostam “um pouco” da leitura e os 13% restantes não querem nada com o texto.

O prazer é a maior motivação para a leitura; depois vem a obrigação, escolar ou acadêmica, a necessidade de se manter informado, a religião. Aliás, quando se pergunta a leitores qual a obra mais significativa em suas vidas, a maioria responde que é a Bíblia; seguem-se O Sítio do Pica-Pau Amarelo (grande Monteiro Lobato!),

O Pequeno Príncipe, do francês Saint-Exupéry, que, numa época, todas as candidatas a miss qualquer-coisa citavam, e Dom Casmurro, do imortal Machado (deve ter muito ciumento por aí querendo saber se Capitu traiu ou não Bentinho).

Mas o autor mais admirado, para desgosto da intelectualidade, ainda é Paulo Coelho, seguido por Monteiro Lobato, Jorge Amado, Machado, Vinicius de Moraes, Drummond e Cecilia Meireles.

Mesmo aqueles que lêem não lêem muito, em termos de tempo. A maioria lê uma hora ou menos por semana. Como seria de esperar, estudantes lêem mais, o que enfatiza o papel da escola como incentivadora da leitura.

Há obstáculos para a leitura, que vão desde problemas visuais até dificuldade de entendimento (sem falar no analfabetismo), e eles ainda afetam metade da população. O que só enfatiza a necessidade de motivar as pessoas; professores e pais têm aí um papel fundamental.

O estudo também mostrou que, depois das livrarias, as feiras de livro são o lugar onde as pessoas mais compram livros.

Portanto, não percam tempo: corram à Praça da Alfândega. Ou vão a outras feiras – a de Farroupilha da qual sou, com muita honra, patrono, está ótima. É tempo de livros, pessoal.

Os americanos podem ter muitos defeitos, mas têm uma grande qualidade: aprendem com seus erros. Um país que foi racista e guerreiro pode agora eleger um candidato negro e menos belicoso.

Falando nisto, nem o Obama escapa aos nomes que condicionam destino. Sabem de quem ele cogita para o lugar da Condoleezza Rice? O senador Richard Lugar. Se dependesse desta coluna, já estaria no cargo.

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