terça-feira, 4 de novembro de 2008



04 de novembro de 2008
N° 15779 - CLÁUDIO MORENO


Ler os clássicos

“Homero continua novo esta manhã, e nada é tão velho, talvez, quanto o jornal de hoje”

Charles Péguy

Há muito tempo troquei os contemporâneos pelos clássicos. Assim como muitos vão buscar suas respostas em Marx, no zen-budismo ou nas seções de horóscopo, eu me sinto mais à vontade conversando com meus autores gregos e romanos, que nunca deixam de ser inspiradores e permitem, generosamente, que eu os leia à minha maneira.

Aliás, o segredo da eterna vitalidade da cultura grega sempre será essa extraordinária riqueza de abordagens que ela possibilita; como muito bem definiu W. H. Auden, cada nação, cada época redescobre a Grécia Clássica de uma maneira diferente, à sua própria imagem.

“Há uma Grécia alemã, uma Grécia francesa, uma Grécia inglesa”, diz ele – para concluir, não sem certa maldade: “Pode ser até que exista uma Grécia norte-americana”...

Para o Ocidente, este sempre foi um diálogo frutífero, que não deixou de ser feito mesmo nos períodos em que o Mundo Antigo era condenado pelo Cristianismo primitivo.

O próprio São Jerônimo, que traduziu a Bíblia para o Latim, amava seus autores pagãos e tratou de justificar sua leitura – e no século 11 de nossa era, um bispo da igreja bizantina costumava fazer a seguinte prece: “Senhor, se estás, em Tua Graça, disposto a poupar algum pagão da ira divina, suplico-te humildemente que poupes Platão e Plutarco”.

Além de lições e de exemplos para a vida, neles encontramos um vastíssimo repertório de personagens e de expressões indispensáveis para a cultura ocidental. Que o diga Margaret Thatcher! Certa feita, ao afirmar que não se deveria dar ouvidos ao enganador canto das sereias dos trabalhistas, ela saiu-se com esta pérola:

“Se Ulisses tivesse ouvido o canto das sereias, seus navios teriam naufragado e ele não teria conseguido chegar a seu destino” – o que deu ensejo a que um deputado de oposição fulminasse o discurso da Dama de Ferro: “Em primeiro lugar, Ulisses ouviu a voz das sereias.

Em segundo lugar, seus navios naufragaram. Em terceiro lugar, assim mesmo ele conseguiu chegar a seu destino. Por último, proponho uma comissão de inquérito que avalie a decadência dos estudos clássicos em todo o Reino Unido”.

Pois, amigos, a L&PM acaba de reunir uma centena de crônicas desta coluna num volume que leva o longo mas sugestivo título de 100 Lições para Viver Melhor – Histórias da Grécia Antiga.

Todos estão desde já convidados para a sessão de autógrafos, nesta sexta, dia 7, às 19h30min, na Feira do Livro.

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