Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 5 de maio de 2008
05 de maio de 2008 | N° 15592
Luiz Antonio de Assis Brasil
Palavras (31)
A árvore - Cada vez que um jovem olha e diz: "Isso é uma laranjeira com flores", essa árvore é toda nova, toda plena de seiva e folhas.
Produzirá os frutos esperados, terá novas estações a cumprir. Impor-se-á, com sua fortuna botânica, ao conhecimento dos homens. Participará, com sua frondosa vegetalidade, da saga humana, animal e mineral sobre a terra. Não morrerá, a não ser nos livros escolares que explicam o ciclo das árvores.
Aquele jovem, ao dizer "Isso é uma laranjeira com flores", está fazendo surgir, numa geração operada por seu fresco pensamento, a inédita trama de circunstâncias e efeitos que por si mesma irá mover-se. O verbo do jovem, em sua energia seminal, faz nascer os frutos.
As flores - O velho, ao olhar para a mesma árvore, não dirá nada. Seu pensamento sempre será mais amplo e mais profundo do que suas palavras.
O velho terá incorporado tantos sentidos a uma mesma palavra que, afinal, por múltipla e ambígua, ela será evitada. Se a palavra "flor" um dia significou-lhe o maricá, o jasmim, o copo-de-leite, o gerânio, o hibisco, algo nítido a ser visto num jardim festivo, hoje pode evocar-lhe a morna saturação aromática dos velórios.
O velho abandonou o hábito de dizer a palavra "flor". O pensamento substituiu-lhe a palavra. O pensamento do velho só entende as coisas em suas labirínticas modulações. O velho tagarela: eis uma completa impossibilidade conceitual.
Retratos - O grande fotógrafo-retratista do século 19 foi Félix Tournachon, dito Nadar. Era francês. O prédio de seu estúdio comercial em Paris ainda está lá, no Boulevard des Capucines, perto da Ópera Garnier.
Na calçada, um homem vende falsas gravatas de seda. Nadar não precisou de palavras para apresentar seus modelos à posteridade.
Ele usava um truque ao fotografar: para que a pessoa mostrasse o que desejava ser, pedia que inspirasse: click. Quando queria retratar a pessoa naquilo que possuía de mais genuíno, de mais verdadeiro, ainda que fosse seu mau-caráter, pedia que expirasse: click.
E assim imobilizaram-se, inspirando ou expirando, as almas mais profundas de Victor Hugo, D. Pedro II, Sarah Bernhardt, Alexandre Dumas, Rossini, Garnier, Baudelaire. Fazer-se fotografar é a mais anacrônica tentativa de não morrer.
Nadar também fotografou as catacumbas sob Paris, onde ninguém mais respirava. Para representar os homens que trabalhavam nas catacumbas, usou manequins. Manequins também não respiram, não fazem a foto sair tremida.
Belas imagens de Nadar: estamos muito, muito longe da arrogante insuficiência da palavra.
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