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sábado, 3 de maio de 2008
04 de maio de 2008
N° 15591 - Paulo Sant'ana
Tristeza ou depressão
É muito comum a confusão entre a tristeza e a depressão. E uma não tem nada a ver com a outra.
A tristeza é movida pelo tédio. E a depressão é movida pela dor.
Dominada pela tristeza, uma pessoa aceita de braços abertos a alegria e o prazer.
Enquanto que, dominada pela depressão, a pessoa rejeita terminantemente a alegria e recusa o prazer, a menos que o prazer consista num vício.
A pessoa triste pode ser razoavelmente sociável, pode ir tomar um chope com amigos, pode dançar até altas horas.
Já o deprimido, ninguém o arrasta para qualquer festa, rejeita qualquer sociabilidade, sofre tremendamente se tiver que trabalhar, qualquer aproximação com outra pessoa é para ele um martírio.
O triste tem esperança e sonha. O deprimido está sem nenhuma esperança, sente-se num beco sem saída, imagina que só poderia se libertar se sua vida se extinguisse.
O triste ainda sai à rua no domingo à tarde. O deprimido não quer sair, encerra-se no quarto e fica torcendo que ninguém entre no quarto.
Não vai a nenhuma festa nem freqüenta nenhuma roda o deprimido porque tem certeza de que estragará a festa ou a roda com seu azedume.
O triste pode aproveitar a paisagem e o sol. O deprimido não enxerga nem a paisagem nem o sol. Ele só tem olhos para sua melancolia.
A tristeza está presente em um estado mental sadio, normal. A depressão é fruto de um estado mental mórbido.
Se formos levar em conta o nosso cotidiano, uma vida de trabalho, estudo, enfrentamento dos problemas familiares, veremos que este clima é propício à tristeza.
Se considerarmos que a alegria se manifesta pelo riso ou pela dança, há poucas horas de uma semana em que uma pessoa normal não esteja triste ou então possuída de tédio.
Então, a tristeza se alterna com a alegria. O triste se dispõe a ser alegre, a alegria depende de suas circunstâncias.
Já o depressivo não atrai para o aparato de suas sensações pessoais a alegria. Pelo contrário, a esconjura.
O triste escora a sua tristeza nos fatos ou ocasiões que o cercam. Já o deprimido sustenta a sua depressão nos seus pensamentos, nos seus raciocínios, na sua cabeça doente, enfim.
O triste pode focar sua existência no presente, o que lhe acontece hoje de ruim pode amanhã estar melhor.
Já o deprimido centraliza sua existência no seu destino, que ele considera amargo, infeliz e irreversível, sem remédio.
Nada têm a ver entre si a depressão e a tristeza. Não são sequer parentes. O triste é uma pessoa viável, propícia à felicidade.
O depressivo está tomado de tal amargor, que calcula que sua vida já chegou ao fim, deprime-o cada vez mais que tenha de enfrentar esta sensação ainda vivo.
O triste é um alegre em potencial ou em eventual, o deprimido é um desistente.
Não há pessoas que mais careçam de apoio afetivo e sentimental que os deprimidos. Eles têm de ser assistidos no seu desespero, na tragédia brutal do seu sofrimento.
E o pior é que muitas vezes os deprimidos se fecham, não se queixam para ninguém e se deixam roer inteiramente pela dor e pelo silêncio.
Peço o mais solene respeito para os deprimidos.
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