segunda-feira, 2 de dezembro de 2024


Número de pessoas com 60 anos ou mais na informalidade avança no RS

Renda insuficiente, envelhecimento da população no Estado e alta nos custos com saúde estão entre os principais pontos que ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas. São 332 mil nessa situação no terceiro trimestre deste ano

Schutz é uma das 322 mil pessoas com 60 anos ou mais que trabalham de forma informal no Rio Grande do Sul, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad Contínua) Trimestral, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em um cenário onde o mercado de trabalho conta cada vez mais com trabalhadores com idade avançada, o montante de pessoas nessa situação cresceu 11,4% no Rio Grande do Sul no terceiro trimestre deste ano ante igual período de 2023.

Além disso, atingiu o maior patamar em números absolutos dentro da série histórica. Mais pessoas idosas trabalhando para complementar a renda, envelhecimento da população no Estado e aumento nos custos com saúde e bem-estar estão entre os principais pontos que ajudam a explicar esse movimento, segundo especialistas.

Olhando apenas números absolutos, o Rio Grande do Sul contava com 322 mil pessoas com 60 anos ou mais trabalhando em situação informal no terceiro trimestre deste ano - 33 mil a mais do que o observado no mesmo período de 2023.

Entre os grupos de idades pesquisados, esse é o que apresentou o maior salto no período. O avanço do contingente de informais com 60 anos ou mais - de 11,4% - é maior ante a média geral. No total, pegando todas as faixas etárias, o Estado tinha 1,970 milhão de pessoas na informalidade no terceiro trimestre - 6,95% a mais do que o verificado um ano antes (1,842 milhão).

O crescimento da informalidade também acompanha o salto na população com 60 anos ou mais ocupada no Estado, que passou de 523 mil para 590 mil entre os dois períodos - alta de 12,8%. No país, o avanço na população com 60 anos ou mais ocupada em situação de informalidade foi menor (6,43%).

Dificuldade na recolocação

- Tem a questão histórica das pessoas de 60 anos ou mais terem mais dificuldades de colocação no mercado de trabalho. Isso seria uma das explicações. Também tem a questão etária, é um grupo que está em maior expansão.

O Censo demográfico de 2022 destacou essa tendência de aceleração do envelhecimento da população gaúcha. O Estado tinha 2,19 milhões de pessoas com mais de 60 anos em 2022 - parcela de 20,15% da população. No censo de 2010, eram 1,46 milhão (13,65% do total). O dado mostra que esse grupo de cidadãos saltou 50,27% entre as duas pesquisas. _

Alto endividamento em um ambiente de renda média baixa

- O aposentado, o idoso, está buscando incrementar a renda. Para pagar as dívidas, ele tem de trabalhar mais.

A taxa de informalidade no grupo com 60 anos ou mais, que mostra o percentual de informais dentro do total de trabalhadores ocupados nesta faixa, ficou estável entre os dois períodos, saindo de 55,2% para 54,5%.

O professor Moisés Waismann, coordenador do Observatório Unilasalle: Trabalho, Gestão e Políticas Públicas, afirma que uma série de fatores empurra pessoas com idade mais avançada para a informalidade. Complemento diante de aposentadoria com valor insuficiente, necessidade de incrementar o orçamento familiar, alto custo das despesas médicas e do lazer e maior número de pessoas com 60 anos ou mais aptas para o trabalho. No entanto, destaca a renda limitada como o fator que tem maior peso dentro dessa equação:

- É uma série de fatores, mas eu acho que o preponderante, efetivamente, é a falta de bem- estar depois da aposentadoria por conta da renda. A renda que se paga pela contribuição da força de trabalho não é suficiente para eles se manterem.

Citado no início da reportagem, o ex-motorista de transporte coletivo Ricardo Schutz, 63 anos, começou a atuar como motorista de aplicativo logo após conseguir a aposentadoria, há cerca de oito anos. A nova atividade começou como algo esporádico, para proporcionar uma renda extra e quebrar a rotina. No entanto, com o custo de vida aumentando nos últimos anos, a nova profissão virou um dos principais alicerces do orçamento do aposentado.

- Se parar, quebra. Não tem como eu dizer hoje que eu vou parar. Faz parte do orçamento. _

ANDERSON AIRES

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