segunda-feira, 2 de dezembro de 2024



02 de Dezembro de 2024
CLÁUDIA LAITANO

Eunice e Malu

Eunice e Malu são personagens de dois filmes de trajetórias igualmente desiguais, ambos em cartaz em Porto Alegre. Ainda Estou Aqui já ultrapassou os 2 milhões de espectadores. Malu corre o risco de passar despercebido - como boa parte dos filmes brasileiros sem nomes famosos no elenco. Estou escrevendo para que você dê uma chance a esse pequeno grande filme, exibido em Sundance e multipremiado no último Festival do Rio.

Malu é um Tchékhov na favela, um drama familiar com uma intensidade poucas vezes vista no cinema contemporâneo. A história se passa nos anos 1990, quando a atriz Malu (Yara de Novaes), já longe dos palcos e da juventude, insiste em continuar cultivando os sonhos perdidos de sua geração - entrando em conflito direto com o carolismo da mãe (Juliana Carneiro da Cunha) e o pragmatismo da filha (Carol Duarte). 

O filme é sobre o convívio possível entre pessoas que pensam e sentem de formas diferentes, sobre cigarras e formigas (e como o mundo seria insuportável se todo mundo só cantasse ou só trabalhasse) e sobre o sentimento visceral que une mães e filhas que se amam, se odeiam ou tudo ao mesmo tempo agora.

As coincidências entre Eunice e Malu não se limitam à circunstância de terem sido retratadas em filmes que chegaram ao mesmo tempo aos cinemas ou que ambas, cada uma a seu modo e em condições bastante distintas, tenham lidado com as consequências imediatas do golpe de 1964. 

O elo mais significativo entre essas duas mulheres tão diferentes entre si é o fato de terem inspirado os filhos a criarem obras que as homenageiam e eternizam. Em certo sentido, Marcelo Rubens Paiva, autor do livro Ainda Estou Aqui, e Pedro Freire, diretor de Malu, deram à luz as próprias mães. _

Cláudia Laitano

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