segunda-feira, 5 de julho de 2021


05 DE JULHO DE 2021
DAVID COIMBRA

Quem estava certo: Jango ou Brizola?

Meu filho fez uma pergunta que me deixou pensativo:

- Quem estava certo: Jango ou Brizola?

É que estava lhe contando sobre o golpe de 1964, em que Jango aceitou ser removido da Presidência sem nenhuma reação, enquanto seu cunhado Brizola queria resistir até o fim.

Brizola, na certa, lembrava de suas façanhas de três anos antes, quando liderara a Campanha da Legalidade, impedira o golpe militar e garantira a posse de Jango na Presidência. Quer dizer: Brizola tinha certeza de que bastaria se levantar de um salto e bater o pé no chão para afugentar os golpistas, que sairiam correndo para suas tocas feito ratazanas.

Jango, ao contrário, levava a conspiração mais a sério e temia que, se ele resolvesse enfrentá-la, o Brasil afundaria numa longa e sangrenta guerra civil.

Sempre tive a convicção de que o Brasil jamais passaria por uma guerra civil. Um conflito fratricida seria contra o espírito pacífico do povo brasileiro. No Brasil, venceria o lado que gritasse mais alto, porque ninguém, no fundo da alma, queria ver sangue derramado.

Assim havia sido exatamente na Campanha da Legalidade, quando os militares se impressionaram com a teimosia e a determinação de Brizola. Como perceberam que ele iria mesmo para o confronto, decidiram recuar e esperar um momento mais propício para agir.

O momento propício chegara em 1964, e agora eram as forças legalistas que pareciam menos resolutas, e se comportavam dessa forma precisamente devido ao desânimo de Jango.

Logo, Brizola estava correto em propor a resistência. Se Jango tivesse sido mais decidido, os militares que o apoiavam se ergueriam ao seu lado e o golpe teria sido evitado. Melhor: teria sido evitado sem derramamento de sangue, como ocorrera em 1961.

Era o que pensava até ouvir a pergunta do meu filho. Então, fiquei ponderando sobre o tal espírito pacífico do povo brasileiro, no qual sempre acreditei. Será que o brasileiro é assim tão pacífico? Tentei contextualizar. Imaginei o impasse de 64 dando-se na atualidade, no século 21.

Como reagiriam os personagens de hoje diante daquela situação?

Minha conclusão foi de que ninguém recuaria. Ao contrário, eles adorariam finalmente ter razões para atacar o inimigo, a fim de eliminá-lo. O Brasil seria devastado por uma guerra civil tão feroz quanto a que dilacerou os Estados Unidos nos anos 1860, com a diferença de que não haveria limites geográficos para a luta. Nos Estados Unidos, era o Norte contra o Sul. No momento em que o Norte invadiu e conquistou o Sul, a guerra acabou. No Brasil não seria assim. No Brasil, a divisão estaria em cada Estado, em cada cidade, às vezes em cada casa.

Ou seja: Jango estava certo. Ele impediu a tragédia da guerra entre irmãos. E hoje? Se um conflito parecido estourasse, como escaparíamos da guerra? Haveria um Jango para nos salvar?

DAVID COIMBRA

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