sábado, 24 de julho de 2021


24 DE JULHO DE 2021
FLÁVIO TAVARES

OS "CATARINAS"

Nossa relação com Santa Catarina foi, sempre, de carinho paternal com raízes profundas. Anita Garibaldi, lá nascida, é a mais lembrada heroína da Guerra dos Farrapos. Houve tempo em que, em gesto de pai para filho, chamávamos aquele Estado de "o maior município gaúcho".

Agora os papéis se invertem e Santa Catarina dita ao Brasil o exemplo a seguir, ao anunciar que vai zerar o uso do carvão como fonte de energia. No século passado, a mineração foi tida como "o grande empreendimento" daquele Estado. Não importava, sequer, que Criciúma (centro carbonífero) fosse cidade triste e doentia, com os telhados tingidos de preto pela contaminação. As belas praias catarinenses pareciam compensar o horror.

Agora, o governo de Santa Catarina vai enviar ao Legislativo um projeto de lei estabelecendo uma "política de transição energética" que substitua o carvão por fontes limpas e renováveis, como a energia eólica. Hoje, o carvão aciona a maior usina termelétrica da América Latina, em Capivari de Baixo, SC. Com apoio dos países da União Europeia e de fundos internacionais, o governo catarinense vai mudar a fonte de abastecimento, absorvendo os 20 mil empregos ligados ao carvão.

Essa preocupação com o futuro difere da visão tacanha com que os governos federal e gaúcho encaram as brutais mudanças climáticas que põem em risco a vida no planeta. Na área federal, continua o descaso com o meio ambiente, mesmo com a saída do ministro Ricardo Salles. Aqui no Rio Grande, a alteração do Código Ambiental (proposta pelo governador) facilitou os passos para cavar mina de carvão a céu aberto, em área de banhado junto ao Rio Jacuí, próximo à Capital.

Além de ignorar os alertas da ciência sobre o perigo do carvão, a mina pode, em eventual desastre ambiental, como em Brumadinho, transformar o Guaíba num lago de águas podres.

Teremos de beber (ou nos banhar) com água mineral da Guarda e Gravatal, lá dos "catarinas"?

A inquietação maior, porém, surge na área política ao saber-se que o ministro da Defesa, general Braga Netto, disse ao presidente da Câmara dos Deputados que não haverá eleição em 2022 sem que se adote o voto impresso, como informou o jornal O Estado de S.Paulo.

O ministro nega a informação, em que ele apenas repetiria a lenga-lenga de Bolsonaro, que, sem apresentar sequer evidências, alega que o voto eletrônico leva à fraude. Ou tudo é o pré-aviso de eventual golpe à luz do dia, em que os autores nem sequer se ocultam?

FLÁVIO TAVARES

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