segunda-feira, 19 de julho de 2021


19 DE JULHO DE 2021
HUMBERTO TREZZI

O que eu e Tom Hanks temos em comum

Leitor, responda rápido: o que o Tom Hanks, o Brad Pitt, a Angelina Jolie e eu, este jornalista que vos escreve, temos em comum? Talento, poderia brincar algum gaiato. Pois descobri, lendo o noticiário dias atrás, que todos nós temos um sonho, o de virar astronauta. Que começa a se tornar menos delirante a partir do lançamento da Virgin Galactic, a espaçonave privada, idealizada e paga pelo bilionário Richard Branson. Na semana passada, ele foi um dos tripulantes que viajaram a 80 quilômetros de altitude e flutuaram no espaço.

E vem mais por aí. Os também bilionários Elon Musk e Jeff Bezos estão a dias de enviar ao espaço suas próprias espaçonaves - no caso de Bezos, ele também participará do voo. Cara, deve ser muito bom ter dinheiro capaz de tornar realidade suas mais loucas aspirações.

É a nova corrida espacial, bancada por empresas e não por governos. Interessadas, claro, em ter lucro com jornadas siderais. Parece um negócio promissor. Conforme portais, a Virgin Galactic já vendeu 600 passagens para pessoas em 58 países do mundo, entre elas os já citados Tom Hanks e Angelina Jolie e os cantores Justin Bieber e Lady Gaga. Como eles não vieram a público negar, estou acreditando. Cada um deles teria desembolsado US$ 250 mil (R$ 1,2 milhão) por uma viagem de pouco mais de uma hora ao espaço.

A grande diferença entre nós, além de eles serem estrelas do show business, é o número de zeros nas contas bancárias, óbvio.

Lembro quando eu pensava em ser astronauta. Foi na década de 1960, auge da corrida espacial entre os governos soviético e norte-americano. Na madrugada de 20 de julho de 1969, a minha família se reuniu em torno de uma TV preto e branco para assistir a Neil Armstrong pisar na superfície da Lua. Eu tinha pouco mais de seis anos, mas já sabia o nome de cada astronauta (toda criança dessa idade sabia). Ir para o espaço era ideia de todos nós, eu e meus colegas de escola.

Imagino que Tom Hanks, que recém tinha completado 13 anos, também assistiu ao pouso do módulo lunar da Apollo 11. Só que a cores. Deduzo isso porque ele estrelou, décadas depois, um filme chamado Apollo 13, uma nave que não conseguiu pousar na Lua porque sofreu uma explosão e ficou à deriva. Quer saber mais? Assista, o filme vale.

Pois agora ele poderá deixar a interpretação de lado e concretizar sua performance espacial. Não mais nas apertadas "latas de sardinha" da Nasa (agência espacial do governo norte-americano) dos anos 1960, mas numa nave com aparência de avião, dotada de poltronas aerodinâmicas, ampla visão, câmeras que transmitem tudo o que ocorre dentro e fora, em tempo real. Há risco? Há. Tanto que a Nasa teve um ônibus espacial, o Challenger, explodido em 1986. O desastre, transmitido ao vivo por TVs de todo o planeta, matou os sete tripulantes, entre eles uma professora (já naquela época não era preciso ser piloto para pegar carona numa espaçonave).

Mesmo diante desses perigos, estou disposto. Fico à espera de uma alma caridosa que resolva doar US$ 250 mil a este pobre sonhador.

*O colunista David Coimbra está em férias

INTERINO

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