sexta-feira, 16 de julho de 2021


16 DE JULHO DE 2021
+ ECONOMIA

"Fit to 55"

Quem ainda não ouviu ou leu a expressão acima, que vem sendo traduzida para "apto para 55" precisa se apressar. O pacote de medidas da União Europeia que sustenta a redução de gases de efeito estufa em 55% até 2030 tem foco doméstico. Mas vai produzir impacto sobre quem faz negócios com o bloco, de fornecedores a compradores. Ainda é preciso aprovar em todos os 27 parlamentos, mas já move gigantes industriais.

"A primeira de muitas"

Fabio Faccio, Diretor-presidente da Lojas Renner

"A primeira de muitas"

A Lojas Renner anunciou ontem a aquisição do Repassa, plataforma online de revenda de vestuário, calçados e acessórios. É a primeira "ida às compras" da empresa que captou R$ 4 bilhões no mercado financeiro. Embora muito alinhado à estratégia, para quem acompanha os movimentos da varejista, especialmente em direção ao ESG (melhores práticas de governança corporativa, social e ambiental) o negócio surprendeu quem esperava um alvo mais óbvio. Nesta entrevista à coluna, o diretor-presidente da Renner, Fabio Faccio, e o diretor de estratégia e novos negócios, Guilherme Reichmann, detalharam os motivos e os próximos passos da consolidação que a gigante pretende protagonizar.

Por que houve certa surpresa com a aquisição?

Um pouco porque, quando a Renner fez captação, houve especulação de compra de empresas enormes. Mas o que temos dito sobre a nossa estratégia faz com que esse seja o racional mais coerente. Queremos ser referência em moda e lifestyle, oferecendo um sortimento maior de produtos e serviços relevantes para nossos clientes. A revenda de roupas vem crescendo 25 vezes mais do que o segmento de moda, e se digitalizou. Além do crescimento exponencial, tem viés de sustentabilidade muito forte, mais ainda para as gerações mais novas. Temos três pilares, digitalização, inovação e sustentabilidade. A Repassa tem ESG no seu propósito, com uso mais longo para cada roupa, e é uma startup nativa digital. Ainda é nova, fundada em 2015, não é tão grande quanto outras especuladas, aí ficou fora do radar da maioria. Fizemos uma parceria no final de 2020, em duas lojas. O sucesso foi tão grande que ampliamos para 15 lojas, e nossos clientes deram nota 9,8 para o serviço.

Qual o valor do negócio?

Não informamos porque assinamos o contrato de compra ontem (quarta, 14). A aquisição ainda está sujeita a due dilligence nos próximos 30, 40 dias. Divulgamos agora porque é nossa obrigação por transparência. Como a Repassa ainda não faz parte do grupo e não tem capital aberto, não temos direito de abrir os números deles.

Essa é a primeira de muitas?

Reichmann: Com certeza. A posição da Renner tem sido muito clara. Temos a missão de ser a grande consolidadora no mundo de moda e lifestyle na América Latina. Temos vários blocos de valor, diferentes marcas e habilitadores de crescimento, que são tecnologia, dados, logística, conteúdo. São aceleradores de nossas iniciativas orgânicas (crescimento próprio) ou aposta em inorgânico (aquisições). Então, sim, é uma possibilidade de que seja a primeira de muitas.

Como a Renner já está no Uruguai e na Argentina, pode haver compras fora do Brasil?

Tem bastante coisa para fazer no Brasil. As iniciativas na Argentina e no Uruguai são recentes. É preciso maturar um pouco nesses países. Não é que seja impossível, mas o foco é maior no país.

A resposta sustentável da Renner está à altura das pressões sobre o modelo fast fashion?

Há uma consciência maior do consumidor sobre temas ESG, o que é muito positivo. Não vemos como pressão, mas como estímulo, porque a Renner trabalha em algumas dessas questões desde o início. Em 2017, intensificamos o recebimento de peças para doação ou reciclagem, e acumulamos 155 toneladas desde então. Agora temos mais uma opção, a revenda, e as pessoas podem definir se querem ficar com 100% do valor, se querem destinar tudo para doação ou definir qualquer proporção entre o que fica e o que doa.

Como estão as vendas?

Desde o meio de abril, vêm melhorando. Em muitos momentos, estão acima do período pré-pandemia. As baixas temperaturas, que vieram mais cedo neste ano e ajudaram, também. O frio e a vacina têm ajudado bastante na performance positiva.

MARTA SFREDO

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