sábado, 31 de julho de 2021


31 DE JULHO DE 2021
ENTREVISTA

"A excitação e o desejo da mulher estão na cabeça"

O que posso fazer para melhorar a minha vida sexual? Afinal, a libido diminui mesmo com o passar dos anos? Dúvidas como essas são comuns no consultório da especialista em sexualidade, que ensina como dar um up na relação a dois

Já pensou ter acesso irrestrito a um remédio gratuito que melhora, simultaneamente, a autoestima, o humor e ainda rejuvenesce? Pois esse é o efeito de uma vida sexual saudável e ativa, garante a psicóloga e sexóloga Lúcia Pesca.

Para marcar o Dia do Orgasmo, neste sábado, conversamos com a especialista em relacionamentos e sexualidade para responder às principais dúvidas femininas sobre o tema. Pensando nas dificuldades que muitas encontram em manter o desejo em alta com o passar dos anos, a terapeuta também compartilha dicas para as mulheres que não querem deixar o prazer sexual de lado na maturidade.

A libido diminui conforme ficamos mais velhas?

Sim, por vários fatores, principalmente fisiológicos, como os hormônios. É importante dizer que mulheres que tiveram uma vida sexual regular durante a vida - não frequente, mas regular - vão sentir menos o problema da falta de libido quando ficarem mais velhas. Vai diminuir? Sim, pelas questões físicas. Mas o hábito vai fazer com que, depois da menopausa, elas consigam ainda ter essa vontade.

Como manter o desejo em alta?

A mulher não foi acostumada, por educação e por hábito, a desfrutar das benesses da vida sexual. Na terapia sexual, a forma com que trabalhamos para que as mulheres consigam permanecer interessadas por sexo é basicamente se autoestimular. Depois, ouvir coisas que excitem. Os homens são mais visuais - então, para eles, os filmes pornô, por exemplo, são positivos. As mulheres precisam de coisas que elas ouçam. A leitura também: tudo que elas possam ler sobre erotismo, como poemas, artigos eróticos, cada uma no contexto de leitura do que gosta, acaba excitando mais. A mulher não precisa trabalhar somente o sexo em si. A excitação e o desejo dela estão na cabeça.

É normal não ter orgasmo, mas, mesmo assim, ter curtido a relação?

A resposta sexual da mulher é diferente do homem. Eles precisam ter desejo para entrar em uma relação sexual. As mulheres, não. Por meio da (psiquiatra canadense) Rosemary Basson, uma pesquisa mostrou que muitas mulheres relatavam (situações do tipo): "Não estava a fim, mas entrei na relação porque gosto dele, porque fazia tempo que a gente não transava, porque me lembrei da última vez que transei". A partir daí, elas vão se excitar. Depois que ela "pega no tranco", como digo, vem o desejo. Ela primeiro vai se excitar para depois ter desejo, e aí pode chegar ou não ao orgasmo, que não é tão importante quanto o prazer que sentiu durante a relação.

Como propor ao parceiro algo diferente na hora a dois?

Se esse casal não teve o hábito da comunicação íntima, torna-se mais difícil falar sobre isso quando ficam mais velhos juntos. É importante trabalhar esse constrangimento e não ficar pensando: "Ah, ele me conhece há tantos anos, deve saber do que gosto". Nem você sabe do que gosta, porque o corpo mudou, a cabeça mudou. A mulher tem que descobrir do que gosta sexualmente e orientar o homem.

Que dúvida é mais comum entre pacientes com mais de 60 anos?

Seja ela casada ou solteira, as dúvidas são, basicamente, sobre como aperfeiçoar a vida sexual. O que posso mudar, o que posso fazer de diferente para me sentir mais solta, mais livre durante o ato sexual? É importante saber que a terapia sexual não serve somente para resolver problemas ou disfunções. Também serve para aperfeiçoar, tornar diferente ou melhor (a vida sexual), e meu consultório tem cada vez mais esse tipo de demanda. Muitas vezes, as mulheres dizem: "Sexo tem que ser natural, não tem que ser aprendido". Tem que ser aprendido, sim. Mulheres inteligentes estão procurando a terapia sexual para essas dicas.

Como manter uma vida sexual ativa na maturidade?

O básico é a comunicação. No momento em que o casal conversa, ela consegue orientar o parceiro e, com isso, não tem tantos conflitos durante o sexo. Outra coisa é tentar diminuir o nível da expectativa. Além disso, (é importante) o autoconhecimento. Se a mulher não se ligou em conhecer suas zonas erógenas até então, a liberdade sexual desse momento vai ajudá-la. Mulheres solteiras que estão com novos parceiros podem ter um pouco mais de constrangimento, e aí eu diria: cuidado com os preconceitos em relação às suas transformações de corpo - e de cabeça também. Primeiro trate isso para depois conquistar alguém.

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