terça-feira, 20 de julho de 2021


20 DE JULHO DE 2021
CARLOS GERBASE

Ocidente

Se o Ocidente fosse apenas um bar - um lugar onde se toma cerveja com os amigos -, talvez estivesse saindo da pandemia como vários estabelecimentos da noite de Porto Alegre: um pouco desfigurado, mas ainda na ativa. Ou poderia ter fechado, como aconteceu com tantos outros, que talvez ressurjam daqui a pouco, com outro nome e outro endereço. A rotatividade é uma regra nesse mercado de gostos efêmeros, em que durar mais de quatro anos merece uma celebração. Contudo, o Ocidente sempre foi muito mais do que um bar. O Ocidente tem 40 anos e é patrimônio cultural do Rio Grande do Sul. Nunca permitiremos que seja desfigurado.

Reduto da diversidade e do comportamento libertário, acolheu a comunidade LGBTQIA+ quando, nos anos 1980, ter uma opção sexual "diferente" ainda era motivo de forte discriminação. Baluarte da inovação artística e da irreverência estética, viu surgir em seu palco músicos e bandas que logo conquistaram um lugar na história da cultura gaúcha. Ancoradouro improvável, mas seguro e duradouro, para os navegantes dos mares literários, abriga o Sarau Elétrico há décadas. Como se a noite não bastasse, ao meio-dia o Ocidente é uma das melhores opções da cidade para um almoço vegetariano gostoso e saudável. Não há espaço aqui para descrever mais atividades, mas elas existem e estão sempre se renovando.

Tudo isso sempre exigiu, e continua exigindo, uma estrutura de certo porte e um bom quadro de funcionários. Nos muitos meses em que ficou fechado, o Ocidente foi enfrentando as dificuldades como um marinheiro enfrenta uma borrasca: firme no timão e esperançoso de dias mais luminosos. O capitão Fiapo Barth e sua tripulação agora pedem nossa ajuda para completar a travessia. Dezenas de artistas, das mais variadas linguagens, participam de dois shows online superespeciais em apoio ao Ocidente, tudo organizado pela Júlia Barth, que conhece o Oci desde o berço. O segundo show é no próximo final de semana, e os ingressos estão à disposição no Sympla (sympla.com.br).

O confinamento nos forçou a uma vida diferente, cheia de barreiras e cuidados, para que a sociedade enfrente um vírus que não gosta de dançar, nem de abraçar, nem de beijar, nem de cantar, nem de beber, nem de jogar conversa fora. Quando tudo isso estiver liberado, como vamos retomar todas estas salutares atividades humanas sem o Ocidente? Adquira seu ingresso, divirta-se e garanta hoje todas as festas de amanhã.

CARLOS GERBASE

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