sábado, 24 de julho de 2021


24 DE JULHO DE 2021
BRUNA LOMBARDI

HOMEM NÃO CHORA

Um tempo atrás, fiz um TED falando, entre outras coisas, sobre a fraqueza dos homens. A possibilidade social de um homem demonstrar sua vulnerabilidade, sem críticas e vergonha. Sem a terrível pressão dos outros que repetem há gerações a infame determinação que homem não chora.

Como se a sensibilidade de um ser humano o diminuísse frente aos outros. Que absurdo é esse que se perpetua, aprisionando a capacidade do homem ter sentimentos?

Por que associar doçura, emoção, comoção e toda a gama de sentidos que nos eleva com a ideia de fraqueza? Existe repressão maior?

Essa distorção de valores gerou uma permanente ameaça à masculinidade, o cara sensível sofre todo tipo de bullying, quando a verdade é exatamente o oposto. Os verdadeiros fracos são os que agridem, os covardes são os que maltratam os mais vulneráveis. Aqueles que acreditam que a supremacia é barulhenta e submetem mulheres, crianças e animais. Que acreditam que, para mostrar soberania, é preciso usar força física e a usam exatamente contra aqueles que não podem se defender.

É triste o resultado de uma sociedade que errou os conceitos. Que transmitiu princípios violentos e criou filhos disfuncionais.

Quanta crueldade, quantas atrocidades, quanto horror seria evitado no mundo se existisse a educação do amor. Se pudesse ter sido ensinado para as pessoas, através das gerações, que o verdadeiro forte é aquele que sabe amar. Sabe se sensibilizar, sabe chorar e sabe consolar quem chora.

A gestão das emoções, a capacidade de compreender e desenvolver nossa inteligência emocional deveria ser matéria de escola. Ela é fundamental para qualquer trabalho, qualquer relacionamento, qualquer atuação na vida.

Em tudo o que fazemos há, por trás, o que sentimos. Aqueles que são obrigados a sufocar esses sentimentos vão inevitavelmente explodir em algum outro lugar. Muitos contra si mesmos, a dor corroendo por dentro os que não conseguem se expressar.

Emoções reprimidas arranham o coração e nos fazem adoecer. São doenças da alma, doenças psíquicas, psicossomáticas. Começam no abstrato e nos atacam fisicamente.

E tanta gente não sabe e não percebe isso. Perpetua um sistema de confinamento, de vozes caladas, de sentimentos não ditos. Até quando?

Se metade da população do mundo são mulheres e a outra metade os filhos delas, há esperança. Podemos, cada uma de nós, corajosamente, ensinar nossos filhos a ser homens que choram, se deixam sensibilizar por coisas tocantes, deixam o coração se comover com a solidariedade de um gesto.

Podemos aos poucos mostrar a beleza das coisas delicadas, porque a criação do universo é feita delas. Deus está nos detalhes. Mostrar que o lado vulnerável em cada um de nós é o que nos dá equilíbrio. É o nosso Yin e Yang, um conceito milenar do taoísmo, duas energias opostas que completam o todo.

O mundo é feito de forças opostas, e elas são essenciais para a nossa harmonia. Sempre que estão em desajuste, a interação das coisas em volta entra em caos. E esse desajuste dentro de nós gera conflito permanente.

Num dos meus livros, O Perigo do Dragão, tem um poema, Sagração, que diz:

"canto a doçura dos homens

e a solidez das mulheres".

E até hoje não perdi a esperança.

BRUNA LOMBARDI

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