segunda-feira, 12 de julho de 2021


12 DE JULHO DE 2021
+ ECONOMIA

MP de Contas requer inspeção na Corsan

Às vésperas do envio à Assembleia Legislativa do projeto do Palácio Piratini que define as regras de privatização da Corsan, o Ministério Público de Contas (MPC) do Estado decidiu entrar com representação no Tribunal de Contas do Estado (TCE) pedindo uma inspeção especial na estatal de água e saneamento. O MPC pede "instauração de processo de contas especial" para avaliar especialmente a conveniência e os riscos da privatização, diante de outras opções para financiar o investimento.

A justificativa para a medida pouco usual é a verificação da principal alegação do Palácio Piratini de que a companhia não tem recursos suficientes para fazer os investimentos exigidos pelo Marco Legal do Saneamento.

Ricardo Hingel, ex-diretor do Banrisul e do banco BTG Pactual no Estado, foi o autor do estudo original, feito à luz da visão do mercado de capitais a pedido de ex-dirigentes da Corsan. À coluna, Hingel argumenta que vê necessidade de abrir o capital da Corsan, mas não de privatizar a empresa, especialmente da maneira como o Piratini sinalizou em suas primeiras manifestações:

- O desenho preliminar do governo do Estado não parava de pé. Avisei que não seria possível fazer em outubro (data prevista anteriormente), e isso se confirmou.

Na nova versão do estudo, detalha Hingel, está prevista uma abertura de capital, não com ações pulverizadas no mercado, como estava previsto nas primeiras manifestações do governo, mas com entrada de um "sócio estratégico e relevante". Para o ex-diretor de banco, esse é um passo essencial para garantir a melhoria da gestão da Corsan. Caso o pedido de inspeção seja aceito pelo TCE e identifique "irregularidades prejudiciais ao interesse público", o MPC ainda pede que a privatização da Corsan seja suspensa por "decisão cautelar" até avaliação final sobre o tema.

Ponte para a venda

Parte do bairro planejado Altos da Figueira, em Guaíba, o condomínio fechado Reserva das Figueiras, apresentado como o "mais luxuoso da cidade", entrará na sua primeira fase de construção. No sábado, a Pinenge Construções e Incorporações entregou os primeiros 80 terrenos aos futuros moradores.Marcos Pinheiro, diretor da incorporadora, diz que a primeira fase está "praticamente 100% vendida". Segundo Pinheiro, a construção da nova ponte do Guaíba ajudou, por tornar o mercado imobiliário do município mais atrativo a moradores da Capital. O condomínio fica a 25 minutos do centro de Porto Alegre.

RESPOSTAS CAPITAIS

LUIZ CARLOS MORAES Presidente da Anfavea

Com falta de carros, "adia compra para 2022 ou vai para o usado"

Só no primeiro semestre, estima a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), a falta de semicondutores impediu a produção de 100 mil a 120 mil veículos. O presidente da entidade, Luiz Carlos Moraes, disse nesta entrevista que o problema só deve ser resolvido no segundo semestre de 2022. Pondera que a falta de semicondutores não é problema restrito ao Brasil, é global, e que as montadoras não têm como segurar repasses diante de aumentos de custos em cadeia. Diante da pergunta sobre como administrar essa alta de preços, fez uma sugestão inusitada:

- Ou adia a compra para 2022 ou vai para o usado.

A falta de semicondutores se agravou?

No ano passado, houve muitas paradas na produção de veículos e, quando voltou com mais força, no final de 2020, a produção de semicondutores havia sido transferida para outros segmentos. Com o home office, cresceu a demanda para computadores, eletrodomésticos, jogos. No mundo, isso pode significar perda de produção de 5 a 7 milhões de veículos. Para o Brasil, estimamos de 100 a 120 mil, só no primeiro semestre. No Rio Grande do Sul, tem o exemplo concreto de uma fábrica parada desde abril até meados de agosto.

Quando deve normalizar?

Temos um estudo que mostra que a estabilização se dará no final do primeiro semestre de 2022. Vamos ter emoção neste ano e no primeiro semestre do próximo. E não só no Brasil, em todo o mundo.

Os preços vão subir mais?

Com essa falta de produção, por conta da falta de semicondutores, o consumidor ou adia a compra para 2022 ou vai para o usado. E também há aumento de preço do usado, consequência da menor oferta de novos. Em relação ao preço dos novos, temos aumentos de dólar, resinas plásticas, aço. Infelizmente, a indústria não consegue suportar, tem de repassar para manter a saúde do negócio.

E o preço vai mesmo baixar em 2022, com a esperada normalização dos semicondutores?

Se o aço baixar, se a resina baixar, se o semicondutor baixar, talvez tenha chance.

O Brasil perdeu a Ford, outras montadoras podem sair?

A indústria mundial de veículos produziu 97 milhões de unidades em 2019. No ano da pandemia, caiu para 78 milhões. Existe ociosidade em vários locais do mundo, e nesse cenário novos investimentos serão destinados a países que sejam mais competitivos e tenham disponibilidade de insumos. Por isso, defendemos a redução do Custo Brasil o mais rapidamente possível para que as montadoras daqui tenham chance para brigar por esses projetos.

Existe risco real?

O primeiro objetivo é garantir novos projetos, novos modelos. Se não renova o portfólio, a unidade fica desatualizada. Por isso, no primeiro momento, é preciso garantir novos investimentos. Se não fizer isso, a segunda hipótese pode acontecer. Sem novos investimentos, o risco aumenta.

Em vez de cair, o custo Brasil não pode aumentar, com a proposta de reforma tributária?

O custo já é muito alto. Além do aumento dos insumos, o Brasil enfrenta a volatilidade do dólar, o aumento da energia, do gás e da taxa de juro. Isso indica que o tema precisa de atenção. Até entendemos o trabalho do ministro da Economia para conter o teto de gastos, o equilíbrio fiscal. Mas é preciso reconhecer que temos um problema de custos no país. Alguns são causados pela pandemia e tendem a se normalizar. Mas estamos muito atentos à questão da energia. Estamos considerando a premissa do governo de que não haverá racionamento, mas está exigindo muito monitoramento.

As montadoras vão aderir ao deslocamento do consumo no horário de ponta proposto pelo Ministério de Minas e Energia?

Cada empresa está analisando o que é possível fazer. O uso racional de energia é uma preocupação de base, que agora ganha mais intensidade por conta do custo adicional.

Como seria, na prática, o deslocamento nas montadoras?

Teria de deslocar o segundo turno da tarde para a noite, o que traz mais custos, com adicional noturno. E é uma mudança que não se pode fazer de forma isolada, é preciso planejar com os fornecedores, não se faz de uma semana para a outra.

Como o setor vê a proposta de reforma tributária?

A unificação do imposto sobre o consumo não pode ficar limitada a PIS e Cofins. É preciso incluir o ICMS, um dos principais problemas que o setor produtivo enfrenta, com burocracia, débitos não aprovados, créditos tributários represados. Entendemos que a reforma está na direção certa, com redução tributária nas empresa compensada com tributação sobre dividendos, mas é preciso fazer calibragem das alíquotas para não aumentar a carga tributária. E como está, dependendo das empresas, aumenta.

MARTA SFREDO

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