17 DE JULHO DE 2021
MONJA COEN
SIGA SEU CORAÇÃO
Quando cheguei no Mosteiro Feminino de Nagoya, há cerca de 40 anos, a Superiora Geral estava hospitalizada. Uma jovem monja, que falava inglês, me levou a visitá-la depois de muita insistência minha. A Abadessa - Sato Sensei - era pequena e estava recostada no leito hospitalar. Ela fez um sinal para nos aproximarmos.
Sabendo de minha visita, havia pedido que eu levasse um poema que demonstrasse meu conhecimento do Darma, dos ensinamentos de Buda. Esse é um hábito comum no Zen Budismo. Eu havia escrito três poemas, que a monja que me acompanhava procurou traduzir para o japonês. Teria ficado claro? Nunca saberei.
Perguntei à Abadessa como deveria ser minha prática no mosteiro, afinal eu acabara de chegar. E ela respondeu:
- Depende do seu coração. Pouco tempo depois, ela morreu. Sua frase ficou em mim.
Anos depois, a nova Superiora Geral, Aoyama Roshi, estava fazendo arranjos de flores para altares e salas do mosteiro, e eu era sua assistente. Era algo que todas as monjas queriam muito: estar próxima da Superiora e poder vê-la, ouvi-la e receber seus ensinamentos sábios e compassivos.
Mas nessa época eu iniciara um curso de japonês numa universidade próxima. Era dia de aula. Chovia muito e eu estava decidida a ficar ao lado de nossa amada Superiora. Entretanto, havia uma monja norte-americana que estava terminando seu treinamento no mosteiro e que me inscrevera nas aulas de japonês. Ela chamou um táxi e disse que eu deveria ir. Procurei a Superiora e perguntei o que fazer. Respondeu: - Siga seu coração.
Ora, meu coração dizia para eu ficar com ela. Mas a outra monja queria conversar com a Abadessa e me obrigou a entrar no táxi. Eu não pude seguir meu coração. Desse dia em diante, a Superiora passou a me tratar com frieza.
Meses se passaram, e o meu Mestre de Transmissão - Yogo Roshi - veio para um retiro especial. Ele costumava vir de tempos em tempos, e eu notara que, mesmo antes dele chegar, nós todas ficávamos muito afáveis, amáveis, gentis, e tudo no mosteiro entrava numa grande harmonia.
Nesse dia, fui cumprimentá-lo e perguntei a razão desse bem-estar coletivo só com a ideia de sua vinda. Ele me respondeu: Depende do seu coração.
Pela terceira vez, o mesmo ensinamento. Quando seria eu capaz de ouvir e seguir meu coração?
Recentemente escrevi um livro com Dom Anselm Grün, A Redescoberta da Existência. Em um dos capítulos, Dom Anselm escreveu: "O segundo conselho que Eclesiastes nos dá: devemos seguir nosso coração. Não devemos dar ouvidos à gritaria das pessoas, mas à voz do coração, na qual Deus se dirige a nós".
Eclesiastes foi um mestre do século 3 a.C. que tentou conectar a sabedoria judaica à grega. Ele se questionava sobre a existência humana e concluía que "tudo é efêmero". Assim como Buda havia concluído três séculos antes dele e em seus momentos finais disse: "Nada neste mundo é seguro".
Anos e anos se passaram. Comecei a entender esses mestres. De tempos em tempos, me calo e ouço. Nem sempre consigo seguir o que escuto no mais íntimo de mim mesma. Quando sigo, tudo se torna harmonia.
E você, tem ouvido o seu coração? Tem silenciado, meditado e procurado pelo sentido da existência? Você segue o seu sagrado coração? Ou é puxado e empurrado pelas falas altas e loucas, descontroladas e obtusas, grosseiras e absurdas?
Cuidado! Não é o coração do amor sensual, dos desejos e apegos. É o coração Buda, desperto, sábio, capaz de discernir o verdadeiro do falso.
Mãos em prece
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