Não é hora de ser simpático, mas de salvar vidas
Prevaleceu o bom senso. O governador Eduardo Leite tomou para si a responsabilidade pelas decisões graves que precisam ser tomadas para evitar que o caos e a dor se instalem de vez nos lares e nos hospitais gaúchos.
A elogiável mudança de rumos ocorreu depois de Leite ceder às pressões de um Frankstein chamado "cogestão" e de divulgar um apelo furado aos prefeitos. Leite pediu a eles que fossem rígidos na fiscalização das medidas de prevenção à covid-19. Não iria funcionar. Se em Porto Alegre Sebastião Melo dá nó em pingo d?água para equilibrar os pratos da sua base de apoio, imagine em uma cidade menor, onde o dono do mercado joga bocha com o prefeito, que é padrinho do filho do caixa desse mesmo mercado, amigo do pai da professora e vizinho do delegado.
É justamente por isso que as medidas mais duras têm que ser tomadas - e cobradas - em níveis elevados da administração pública. Também é esse o sentido dessa estrutura gigantesca, financiada por nossos impostos: dividir o poder e as responsabilidades em camadas, com atribuições diferentes e complementares. O perfil conciliador de Eduardo Leite traz mais vantagens do que prejuízos ao Estado. Mas existe a hora de bater na mesa e assumir na plenitude o ônus de ser governador. Foi o que ele fez ontem, depois de patinar por alguns dias.
Agora é esperar que Eduardo Leite exerça na plenitude o poder a ele conferido pelo voto. Não é hora de ser simpático. É hora de salvar vidas.
Síntese perfeita
A frase é monumental: "A estabilidade atrapalha Brasília". O autor é Renê Ferreira, presidente da Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas. A ideia expressa com exatidão a lógica que move o tabuleiro do poder no Brasil. Foi dita durante uma conversa informal. Depois, pedi ao Renê autorização para publicá-la.
É bem assim que funciona. As crises, os sustos e as urgências abrem brechas para negociar sob pressão. E, nesse contexto, as margens são mais elásticas e os protagonistas se banham com as luzes dos holofotes, invariavelmente divididos em mocinhos e vilões. Mas, de fato, os sobressaltos que estimulam os intestinos do poder no Planalto Central impedem que o cérebro e o coração conversem, decretando a falência do bom senso. Inventar problemas para vender soluções. Assim funciona o mundo dos espertos.
TULIO MILMAN
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