sábado, 6 de fevereiro de 2021


06 DE FEVEREIRO DE 2021
MARCELO RECH

Urgência urgentíssima 

Ao ritmo atual, mais brasileiros morrerão de covid-19 em apenas dois meses do que todos os norte-americanos em oito anos de guerra no Vietnã. Calamidades, como guerras, não se vencem fazendo mais do mesmo e da mesma forma. No Dia D de verdade, sem computador ou celular, os Aliados desembarcaram 156 mil homens e 20 mil tanques e caminhões em território inimigo. Por aqui, passaram-se quase três semanas de nossa hora H do Dia D e os resultados não empolgam. Até o fim da semana, o Brasil só tinha vacinado com uma dose 1,44% dos brasileiros, ao ritmo diário de 0,11% da população. Nos EUA, outro epicentro da doença, vacina-se com o dobro da velocidade, e em Israel - não por acaso um país que vive em prontidão permanente -, 11 vezes mais rápido.

Os cochilos e as trapalhadas do governo Bolsonaro na compra de vacinas são responsáveis pelos estoques limitados e pelos atrasos na chegada das vacinas, mas, uma vez entregues ou produzidas em solo brasileiro, o Ministério da Saúde, com apoio das Forças Armadas, as têm distribuído com boa eficácia. A aplicação parece emperrar na ponta final. No Rio Grande do Sul, que é um modelo no quadro brasileiro, haviam sido aplicadas até a noite de quinta-feira 198,2 mil das 511,2 mil doses distribuídas. Mesmo levando em conta que metade deve ser guardada para a segunda aplicação, não se chegou à totalidade nem do público-alvo mais prioritário e identificável - os trabalhadores em saúde. Em Porto Alegre, uma Capital que se destaca no cenário nacional de saúde pública, aplicaram-se 35 doses em 31 de janeiro, um domingo. Guerras e calamidades não fazem fim de semana.

A consultora LCA calcula que, se 70% dos brasileiros fossem vacinados até agosto, o PIB cresceria 5,5% neste ano. No ritmo atual, porém, já será muito se os 70% forem alcançados em dezembro, a um custo de dois pontos percentuais no PIB, o equivalente a R$ 150 bilhões. Na ponta do lápis, sai infinitamente mais barato investir o máximo em vacinação agora do que poupar e manter um ritmo modorrento de compras, aprovações e imunização.

Ainda que se aleguem dificuldades extras e percalços burocráticos, o Brasil poderia fazer mais. Um país que realiza uma eleição eletrônica confiável, sigilosa e simultânea em todos os municípios e localidades incluindo as mais remotas, detém capacidade suficiente para se mobilizar e se superar em situações de emergência como agora. As equipes da linha de frente estão fazendo seu papel, mas não há como escapar da sensação de que, em escalões superiores, falta uma agonia, a prioridade absoluta e emergencial para aquela necessidade premente, em que não há fim de semana, ninguém relaxa ou fala de outra coisa até que o problema seja equacionado. Falta, enfim, senso de urgência urgentíssima.

MARCELO RECH

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