domingo, 21 de fevereiro de 2021


20 DE FEVEREIRO DE 2021
SAÚDE EM ALERTA NO RS

Sob novas variantes, pandemia assume características inéditas

Ritmo acelerado de hospitalizações e impacto generalizado preocupam especialistas em relação aos rumos da covid-19

O vírus já é conhecido, mas é como se uma nova pandemia tivesse atingido o Rio Grande do Sul nos últimos dias. Em meio a uma escalada vertiginosa de internações hospitalares e de impacto generalizado entre regiões, a disseminação da covid-19 adquiriu características que ainda não haviam sido observadas no Estado. A combinação entre o espalhamento de novas variantes, o descuido com medidas de prevenção e o final das férias deixa especialistas temerosos de um agravamento desenfreado nas próximas semanas.

O avanço atual da doença é mais rápido e abrangente do que havia sido registrado desde seu desembarque em solo gaúcho. Em uma semana, as hospitalizações cresceram 43% em leitos clínicos e 22% em unidades de terapia intensiva (UTIs), conforme dados disponíveis até as 13h de sexta-feira. O fenômeno passou a atingir praticamente todas as partes do Estado: das sete macrorregiões de saúde, seis tiveram aumento nos dois tipos de atendimento ao longo de sete dias - apenas o Sul teve ligeiro recuo nas UTIs (veja gráfico).

- Já tivemos momentos em que a Região Norte ficava mais complicada, depois a zona de Caxias, ou a Metropolitana. Nesse momento, pela primeira vez, estamos vendo agravamento geral, com elevação da demanda por leitos clínicos e de UTI - alerta o diretor da Auditoria do SUS da Secretaria Estadual da Saúde (SES) e integrante do gabinete de crise do governo estadual, Bruno Naundorf.

A nova fase da covid-19 traz ainda outras peculiaridades vistas pela primeira vez - e para as quais ainda não há explicações conclusivas. Apesar da escalada íngreme de hospitalizações, esse cenário ainda não se reflete por inteiro nos números de novos casos e óbitos.

A última semana de janeiro e a primeira de fevereiro chegaram a registrar leve decréscimo no número de exames positivos tabulados por data de início dos sintomas - de 12,9 para 12,5 mil. Mas o coordenador da Rede Análise Covid-19, Isaac Schrarstzhaupt, alerta:

- O Rio Grande do Sul estava caindo (no número de casos) de forma cada vez mais devagar, o que indicava reversão de tendência - diz Isaac, que lembra complicadores no cenário atual, como final das férias, volta às aulas e aumento da mobilidade nos municípios.

Mudança

Ainda assim, o infectologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alexandre Zavascki afirma que a evolução recente é atípica:

- É uma situação que ainda não tínhamos visto, com muitas pes­soas internando em um curto período de tempo sem um aumento no número de casos na mesma proporção. Talvez tenhamos testado menos durante as férias.

Esse cenário pode estar mudando rapidamente. O virologista e professor da Universidade Feevale Fernando Spilki revela que a demanda por exames na instituição de Novo Hamburgo disparou nos últimos dias, assim como o índice de resultados positivos:

A quantidade de óbitos, segundo o painel de monitoramento da SES, subiu de 311 para 317 entre as semanas epidemiológicas 5 e 6 (nos sete dias anteriores a 6 e a 13 de fevereiro, respectivamente). Pode ser que nem todas as mortes ocorridas mais recentemente já tenham sido notificadas. Além disso, é provável que os efeitos da atual avalanche de adoecimentos só resultem em elevação da mortalidade nos próximos dias ou semanas.

- Podemos ainda não estar vislumbrando as mortes que talvez só venham a ocorrer em duas, três semanas. Mas só as hospitalizações já são carga de sofrimento considerável para os pacientes e para o sistema de saúde - avalia o gerente de Risco do Hospital de Clínicas, Ricardo Kuchenbecker.

O infectologista Ronaldo Hallal, integrante do Comitê de Covid-19 da Sociedade Riograndense de Infectologia, aponta que uma redução significativa na mobilidade é necessária para impor um freio à disparada de internações por coronavírus.

- O modelo de distanciamento controlado não contém a circulação viral, apenas aciona procedimentos a partir do impacto hospitalar. É preciso reduzir a mobilidade. As pessoas precisam de recursos para poder ficar em casa, mas é necessário mais isolamento - observa Hallal.

Bruno Naundorf afirma que o governo gaúcho está estudando novas medidas para barrar o coronavírus. Em entrevista à Rádio Gaúcha na manhã de sexta-feira, o diretor de Regulação da SES, Eduardo Elsade, observou que o modelo de distanciamento adotado no Estado leva em conta critérios científicos para definir medidas de contenção da pandemia.

 MARCELO GONZATTO

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