segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021


22 DE FEVEREIRO DE 2021
OPINIÃO DA RBS

O PAÍS PRECISA DE ESTABILIDADE

Uma rápida espiada no retrovisor da história recente mostra que, nos últimos oito anos, o Brasil vive uma sequência alucinante de instabilidades. As jornadas de 2013, a polarizada eleição de 2014, os escândalos desnudados pela Operação Lava-Jato, o impeachment de Dilma Rousseff, o episódio da JBS no governo Michel Temer, a greve dos caminhoneiros, o tumultuado pleito de 2018 e a errática gestão de Jair Bolsonaro, com a sua coleção de controvérsias e excentricidades, são os ingredientes que levaram o país a ter uma nova década perdida. Já seria um decênio desperdiçado, pelo baixíssimo crescimento, mesmo se o mundo e particularmente o Brasil não fossem atingidos em cheio pela pandemia de covid-19.

Para voltar a crescer em bases sustentáveis, o país precisa, em primeiro lugar, retomar a estabilidade política e institucional. Apenas com mais respeito e harmonia entre os poderes e menos radicalismo e arroubos autoritários será possível construir um ambiente adequado para que se avance em pautas prioritárias. Não apenas na vacinação contra o novo coronavírus, pontuada por atritos entre a União e os demais entes federados. Mas também em relação a outros temas candentes como o auxílio emergencial e reformas basilares, como a tributária e a administrativa.

O país desperdiçou, nos últimos dias, preciosos tempo e energia com o deputado extremista Daniel Silveira (PSL-RJ) e ficou, outra vez, à beira de uma nova crise institucional. Enquanto isso, a economia segue parada, o desemprego permanece alto e o foco, que deveria estar centrado em temas estruturantes, se dispersa. Como se não bastasse, o próprio presidente Jair Bolsonaro, em nova recaída populista, tenta baixar a fórceps os preços do diesel e do gás de cozinha, sem indicar fontes para compensar a perda de arrecadação. Para completar, em mais uma lembrança à era petista, opta pela intervenção política na cúpula da estatal. O resultado, não poderia ser diferente, foi uma forte queda nas ações da petroleira na sexta-feira e uma natural desconfiança ainda maior dos investidores internacionais.

A esta altura do mandato, o presidente da República deveria ter compreendido que não existem soluções fáceis para problemas complexos e que governar significa ter de tomar decisões difíceis, mas que mirem benefícios para o país ao longo do tempo, e não as flutuações imediatas da popularidade. O Brasil está exaurido por crises, conflitos inúteis e sobressaltos constantes, como a troca de comando na Petrobras, que minam a confiança de empresários e consumidores e frustram as expectativas de crescimento. As lideranças responsáveis deveriam trabalhar para harmonizar as relações entre os poderes, serenar ânimos e construir consensos em torno de uma agenda mínima para começar a resgatar o país do atoleiro e da posição de retardatário na corrida global pelo desenvolvimento.

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