20 DE FEVEREIRO DE 2021
CLAUDIA TAJES
Amor a sete chaves
A quarentena mudou a rotina do mundo. O que era perto, de uma hora para outra, ficou mais distante que a lua. O que era simples, de repente, ficou complexo, complicado, uma barafunda. Ainda assim, apesar das chamadas condições adversas, surgiram histórias de amor. Porque o amor pode ser tanto um diamante, que não se quebra, quanto uma erva daninha, que aparece do nada. E quem consegue se livrar dela?
O amor resiste, o danado.
São muitas as notícias de relacionamentos amorosos que vingaram durante a pandemia. Casais que se apaixonaram a distância e nunca se viram pessoalmente, casamentos online e até gente caindo de amores pelo vizinho de porta. Pena que com uma porta no meio. A historinha a seguir é um exemplo. A Ana e o Rafael se conheceram em Porto Alegre, no saudoso Carnaval de 2020. Contrariando as expectativas, continuaram a se ver depois da quarta-feira de cinzas, até que março chegou e ela viajou para estudar em Portugal. O Rafael combinou de encontrá-la em abril e, quem sabe, ficar por lá também, ele que estava meio perdidão na vida.
A Ana e o Rafael só não contavam com o coronavírus. Ninguém contava, sejamos francos. E os planos deles viraram de cabeça para baixo.
Março de 2020:
Rafael: Não vai dar para ir. Fechou tudo, ninguém entra e ninguém sai!
Ana: Dá um jeito! Eu preciso te ver!
Rafael: Só com teletransporte! Não tem voo, não tem navio, eu vou como?
Ana: Em dois dias a gente completa um mês de namoro. Eu vou comemorar sozinha?
Rafael: Meu amor, a gente tem a vida toda para comemorar!
Ana: Não aguento mais ficar abandonada aqui no hotel, só eu e o senhor da portaria que não entende o que eu falo.
Rafael: Mas ele não é português?
Ana: É, mas não ouve direito. Vem logo!
Rafael: Só se eu tivesse um avião. Mas eu não sou o Luciano Huck!
Ana: E se você falasse com ele? Não sai uma carona?
Rafael: Meu amor, você está muito nervosa! Para um pouco, acalma!
Ana: O que mais você sabe fazer além de me criticar?
Rafael: Eu não estou te criticando! É que nós precisamos ser maduros.
Ana: Eu sou madura. Vem para cá agora!
Rafael: Tem que ser a nado, então. Mas eu só sei nadar cachorrinho.
Ana: Se você se importasse comigo, viria. O que são alguns milhares de quilômetros com tubarões e ondas gigantes quando a gente ama?
Março de 2021:
Rafael: Passagem comprada, malas feitas e PCR na mão. Amanhã eu chego para comemorar o nosso primeiro ano de namoro!
Ana: Más notícias. Lockdown aqui. É para a nova cepa que vem do Brasil não entrar.
Rafael: Eu não tenho nada a ver com isso! Eu não sou uma cepa! Eu quero entrar!
Ana: Nós precisamos ser maduros.
Rafael: Maduro, o cacete! Um ano de namoro e a gente só se viu por quatro dias! Ainda tem tanta coisa para conhecer. Para mim você não é um país, é um continente. Não, é uma galáxia. Eu preciso de toda a minha vida para te descobrir.
Ana: Eu espero todos os anos-luz que precisar para a sua galáxia encontrar a minha.
Pelo jeito, vai esperar mesmo. O Rafael está no grupo não prioritário e vai demorar bastante a se vacinar. Mas essa história não é uma tragédia e, para brincar, os atores Leonardo Barison e Janaína Barbosa estão interpretando a saga de Rafa e Ana na série Zoommance, no Vimeo. Roteiro feito em família pelo Duda Tajes e por mim. Entra aqui para ver: gzh.rs/zoommance.
Dependendo de quantas novas cepas ainda aparecerem, a gente sai dessa.
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