segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021


22 DE FEVEREIRO DE 2021
DAVID COIMBRA

A ironia na derrota do Inter para o Flamengo

Rodinei foi o improvável protagonista da derrota do Inter para o Flamengo no Maracanã. Ele foi o personagem mais discutido antes do jogo, durante o jogo e, obviamente, continuará sendo agora, no depois do jogo.

O resultado passa por Rodinei. Mas o que ocorreu com esse lateral modesto, que até a semana passada não chamava muita atenção no futebol brasileiro, transcende os limites do esporte. Há muitos questionamentos que podem ser levantados neste caso. Porque Rodinei só jogou graças à generosidade de um ricaço, que pagou R$ 1 milhão de multa ao Flamengo para que ele pudesse entrar em campo.

Esse é o questionamento que mais me inquieta: é assim mesmo? No capitalismo raiz cada um faz com seu dinheiro o que bem entender? Legalmente, decerto que é. Mas pode haver algum incômodo ético com este uso do dinheiro? Num país que padece de tantas misérias, não é um pouco obsceno gastar tanto para garantir a escalação de um lateral-direito?

Ontem, um grande empresário disse uma frase que me fez ficar pensando. A seguinte:

"O dinheiro tem de ser respeitado".

Porque o dinheiro não representa apenas bens materiais. Ele representa sacrifício, esforço e, sobretudo, tempo. Pode significar bem-estar, saúde e segurança. Pode ser a diferença entre a vida e a morte.

Então, deixo essa pergunta para você responder, leitor: não é triste saber como foi gasto esse dinheiro? Ou está tudo bem?

De qualquer forma, talvez o magnata tenha se arrependido do gasto. O que não deixa de ser uma suprema ironia do destino. Porque, no primeiro gol do Flamengo, Rodinei, que, segundo Abel Braga, nunca é driblado, foi driblado por Bruno Henrique, que passou para Arrascaeta marcar.

Depois disso, Rodinei entrou com força excessiva numa dividida com Filipe Luís, pisou-lhe o calcanhar, torcendo-o de forma periclitante, e foi expulso.

Foi por isso, por causa desses dois lances, que o Inter perdeu a partida.

Porque o Inter jogou bem.

Enquanto os dois times tinham 11 jogadores, o Inter foi melhor, assenhoreou-se do jogo e saiu ganhando, com o gol de pênalti de Edenilson. No primeiro tempo, o Flamengo só teve um respiro técnico por cerca de 15 minutos, quando conseguiu tocar a bola e envolver a marcação. Aí, empatou. Mas o Inter não se apequenou. Ao contrário, empurrou o Flamengo para trás e quase fez o segundo com... Rodinei! Ele chutou forte de dentro da área, a bola desviou no pé de um zagueiro e bateu na trave.

Mas nem a expulsão de Rodinei tirou do Inter a vontade de vencer (ou, pelo menos, de empatar). Em certo momento, o Flamengo ficou acantonado na sua área, espaventando a bola no chutão, no desespero, na ânsia de se livrar dela de qualquer jeito. O Inter, com um jogador a menos, foi mais agressivo, mais perigoso e mais valente, e o símbolo de todas essas qualidades foi Patrick, que metia a bola goela adentro dos marcadores como se estivesse enfrentando crianças.

O Flamengo venceu por ter jogadores mais técnicos e porque estava com um a mais. Mas o Inter foi melhor. Os próprios jogadores do Flamengo sabiam disso, tanto que, quando o juiz apitou o fim da partida, jogaram-se à grama, exaustos, e comemoraram a façanha. Sabiam que tinham batido um time com futebol de campeão.

DAVID COIMBRA

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