sábado, 6 de fevereiro de 2021


06 DE FEVEREIRO DE 2021
CLAUDIA TAJES

O bloco do Fica em Casa

Estou me guardando para quando o Carnaval não chegar. E olha que, nesse ano, a variedade de fantasias seria grande, a se considerar o bloco dos mascarados que é maioria na avenida - isso a despeito dos que fantasiam que a vida está normal, olelá, olalá.

Não faltariam opções na hora de escolher o figurino.

Odalisca de máscara cirúrgica bordada com paetês.

Havaiana de máscara tripla estampada com flores.

Pirata com uma caveira de strass aplicada na máscara preta.

Mulher-Maravilha com um MM dourado na máscara. Ia ter gente me confundindo com a Martha Medeiros, e pedindo autógrafo.

Se o Carnaval chegasse em 2021, fantasia alguma estaria completa sem a máscara. Ah, mas eu pretendia ir só de tapa-sexo com o símbolo do meu time. Se não usasse também a máscara com o símbolo do seu time, você se sentiria nua.

Sair sem máscara é o verdadeiro atentado ao pudor.

Estou me guardando para quando o Carnaval não chegar. Aquele eterno plano de passar a noite no Sambódromo, dessa vez, será adiado sem culpa. Não por mim, é que esse era o sonho da minha mãe. Um dia, quando percebeu que não sairia do hospital, ela disse: "E vê se vai no Sambódromo, eu queria tanto e não vai dar tempo". Não é exatamente uma dívida, mas a cada Carnaval que não vou, renovo a fatura para o ano seguinte.

Em 2022, sem falta.

Estou me guardando para quando o Carnaval não chegar. Pela primeira vez, deu vontade de não fugir da confusão, quem sabe até estrear em um bloco, a alegria de ocasião contaminando mais do que o coronavírus. A capacidade de ser alegre por uns dias, hora marcada para começar e terminar, bem que podia nascer com todos. Vou tentar desenvolver a minha.

Estou me guardando para quando o Carnaval não chegar. Mas o Carnaval na Câmara dos Deputados foi comemorado antes. O bloco do toma lá, dá cá saiu forte e elegeu o sujeito que é réu por corrupção em duas ações no STF. Fora as acusações de violência doméstica. É o Brasil fantasiado de nova política. Quanto riso, ó, quanta alegria.

Estou me guardando para quando o Carnaval não chegar. Entre pagar um preço digno de Exterior no nosso litoral, e isso para ir à praia só em rápidos horários de pouca gente na areia, talvez seja melhor ficar dentro de casa sem pagar nada. O que se deve fazer e o que se tem vontade de fazer, a inevitável luta do humano. Devido a tudo, o jeito hoje é deixar a razão vencer.

Estou me guardando para quando o Carnaval não chegar. Mas deixa chegar a minha vez na fila da vacina.

Eu me vingo.

CLAUDIA TAJES

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