segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021


22 DE FEVEREIRO DE 2021
+ ECONOMIA

Bolsonaro amplia ameaças e contrata dia de pânico

Além de mudar o comando da Petrobras, Jair Bolsonaro avisou que vai fazer "mais trocas", "meter o dedo na energia elétrica" e fazer mudanças "não de bagrinho, de tubarão". O conjunto de ações e declarações aponta uma segunda-feira de pânico no mercado financeiro. E não se trata "apenas" de novas perdas de valor de mercado da Petrobras, projetadas entre R$ 50 bilhões e R$ 100 bilhões, depois da erosão de R$ 28 bilhões na sexta-feira. Economistas como Paulo Feldman estimam dólar a R$ 7. Projetar câmbio é missão inglória, mas parece inevitável que o real se desvalorize. Isso significa que, sem mudança na política de preços da Petrobras exigiria novos reajustes nos combustíveis.

Outro impacto deve ser a elevação do risco Brasil. Medido pelo seguro contra eventual calote a credores do país, o Credit Default Swap (CDS), vinha caindo nos últimos seis meses (-28%), mas subiu quase 6% na semana passada. Mais uma consequência previsível é a alta nos juros futuros, que representam aumento de custo do financiamento a empresas.

As ações da Petrobras haviam caído 7,92% com a ameaça de intervenção. A troca do comando só foi confirmada depois do fechamento da bolsa. Em Nova York, na negociação com papéis de empresas além do fechamento, no chamado "after market" (depois do mercado)k, os da Petrobras desabaram até 15%.

As especulações sobre a permanência do ministro da Economia, Paulo Guedes, foram acalmadas com sinais de que havia a percepção da equipe, que o episódio seria restrito à desvalorização da Petrobras e não afetaria o ajuste e as reformas. Por isso, Guedes tratou de tranquilizar os que temiam outra "demissão", a da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), que determina necessidade de suprir o buraco na arrecadação com isenções de impostos, como o de PIS-Cofins sobre diesel e gás de cozinha com outros tributos. Assegurou que providenciaria a compensação.

As novas ameaças de Bolsonaro apontam para o segundo cenário, como se o presidente mandasse recado a quem ainda acredita que a mudança na Petrobras seja pontual, não uma inflexão antiliberal. Para agravar o desconforto de Guedes, à demissão sumária de seu amigo, Bolsonaro adicionou agressão verbal:

- Parecia exorcismo quando falei que não ia prorrogar por mais dois anos o mandato do cara (Castello Branco). Compromisso zero com o Brasil.

Executivos da Faria Lima, a avenida de São Paulo onde circulam as chaves dos cofres, freiam declarações públicas para não piorar o clima. Mas pessoas que foram entusiastas da candidatura de Bolsonaro já mandaram mensagens assim aos amigos:

- Imagina se vai privatizar algo. Ele é pelo Estado grande, é populista, sindicalista de milico, pais de milicianos.

MARTA SFREDO

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