Izquierdo, o homem que falava direito
O professor Ivan Izquierdo sempre é citado quando explico a diferença entre falar difícil e falar bem. Generoso, me concedeu uma dezena de entrevistas no Estúdio 36, programa da TVCOM que teve Lauro Quadros como pioneiro e esse que vos escreve como sucessor, durante quase uma década.
Izquierdo, que morreu em fevereiro, enquanto eu estava em férias, era um dos maiores especialistas do mundo em memória. Mas quando se dirigia a um público leigo, sua maior preocupação era ser entendido. Conseguia, em nome da causa, simplificar ao máximo um tema extremamente complexo. Usava palavras simples e comparações conectadas com a vida cotidiana das pessoas.
Era encantador ver como um cientista citado no mundo inteiro, argentino de nascimento, fluía em português de um jeito preciso e acessível. Peço licença para uma pequena digressão que me traz boas lembranças. Mais de uma vez comecei nossas conversas, ao vivo, na tevê, como a mesma pergunta: "Sobre que o senhor veio falar aqui mesmo, que eu esqueci?". Ele ria, mais por educação do que pela improvável graça da minha tentativa de piada com o tema ao qual dedicou a vida.
Simplificar é complicado, porque exige o conhecimento total e profundo de um tema. Falar difícil é para qualquer um. Na maioria das vezes, é apenas um exercício de poder e uma ostentação de status. Por medo ou insegurança, boa parte dos especialistas pronunciaria, pomposamente: "O balão de couro branco atravessou a linha que une os dois postes configurando a incidência de um tento". Ivan Izquierdo diria: "É gol". E foram muitos, disso nos lembramos bem.
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