10 DE FEVEREIRO DE 2021
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A Navalha de Ockham
"As entidades não devem se multiplicar além do necessário, a natureza é por si econômica e não se multiplica em vão." Este é o Princípio da Economia, enunciado pelo frade franciscano inglês Guilherme (William) de Ockham, afirmando o minimalismo e a simplicidade como valores universais.
Ockham foi filósofo, teólogo escolástico (defensor do convívio entre a fé cristã e o racionalismo) e também um polemista em sua época (século 14), tanto que acabou excomungado.
Era profundo o questionamento que fazia à religião à qual - apesar de ser um frade - acusava de usurpar o livre-arbítrio do homem ao admitir a influência de santos, o atendimento a pedidos e a permanente imposição da vontade divina.
Radical em sua visão naturalista, dizia ser a intuição o ponto de partida para a compreensão do universo, afastando outras possibilidades, tanto terrenas quanto divinas. Essa simplificação gerou a metáfora de uma navalha cortando tudo o que existe a mais, pois a parcimônia prega o corte do desnecessário, o uso do caminho mais curto e a aplicação das teorias mais simples. O postulado não diz o que é certo ou errado, o que é verdade ou não, mas, isto sim, propõe uma hipótese de trabalho - a simplicidade - que deveria ser universal.
Ao longo do tempo, a teoria perdeu força por suas próprias contradições e também por conta do conflito com a Igreja, já que a partir dela pensadores ateístas radicais afirmavam que Deus seria uma hipótese desnecessária para explicar o mundo, afastando dos homens o peso metafísico de um ser superior.
Mesmo assim, a disseminação do pensamento de Ockham levou a uma nova formulação da ideia da navalha. Ninguém menos do que Albert Einstein aprimorou o postulado dizendo o seguinte (em tradução livre): "As teorias devem ser tão simples quanto possível, mas nem sempre devemos escolher as mais simples".
Ockham foi brilhante, mas como todos os precursores avançou em uma trajetória de erros e acertos; seu pensamento foi objeto de excessiva simplificação (suprema ironia) por parte de muitos que escreveram a respeito e que concluíram, de forma superficial, que as respostas mais simples são sempre as certas.
Talvez tenha vindo daí a famosa frase atribuída a Napoleão Bonaparte: "Nunca atribua à malícia o que pode ser explicado pela incompetência".
Esta sim - a incompetência - é simples, infalível e universal.
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