terça-feira, 1 de dezembro de 2020


O RECADO DAS URNAS 

Os eleitores de 57 municípios voltaram às urnas no domingo e confirmaram uma advertência que já se mostrava clara com os resultados do primeiro turno: os brasileiros cansaram da radicalização e da polarização política que tomou conta do país nos últimos anos. Os resultados das candidaturas identificadas com os dois polos da disputa ideológica mais renhida, à esquerda e à direita, foram pífios.

A análise dos números da eleição municipal de 2020 mostra que foram os partidos de centro- direita os grandes vencedores. As cinco siglas que mais elegeram prefeitos foram, na ordem, MDB, PP, PSD, PSDB e DEM. São legendas que, em sua maior parte, não estão necessariamente ligadas a um discurso meramente ideológico, dogmático e de confronto. Mais tradicionais como MDB, PSDB e DEM ou novatos, como o PSD, são sobretudo o oposto da antipolítica, o cometa da eleição de 2018 cujo brilho está cada vez mais fosco.

O recado de rejeição à polarização exacerbada apareceu algumas semanas antes, com a vitória de Joe Biden e a derrota de Donald Trump na eleição presidencial norte-americana. Foi essencialmente um movimento de busca pela moderação e retorno a uma gestão norteada pelo bom senso, algo que, mesmo sem uma relação direta, encontrou eco no Brasil, onde a população aparenta exaustão de anos de confrontos retóricos vazios, enquanto os problemas palpáveis dos cidadãos não só não são resolvidos, como se agravam.

No polo da esquerda, que encolheu neste ano, o Partido dos Trabalhadores não elegeu um prefeito sequer nas capitais. Enfraquece-se e vê nomes de outras legendas se consolidarem como alternativa eleitoral em futuras disputas pelo campo dito progressista. No outro extremo ideológico, nomes apoiados pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro, da mesma forma, tiveram desempenho sofrível.

Espera-se que os novos eleitos entendam a mensagem expressa em votos e centrem mais energia na solução de desafios de seus municípios do que no confronto com adversários políticos ou na guerra para impor suas doutrinas. A radicalização e a polarização podem servir para chegar ao poder em determinado momento histórico ou a partir de uma conjuntura específica. Mas têm prazo de validade curto. São comportamentos que mais apartam do que agregam. Miram a destruição sem uma proposta clara do que será colocado no lugar. E por isso não são construtivas. Invariavelmente acabam revelando-se incapazes de responder aos anseios e necessidades da sociedade. As urnas em 2020 falaram e deram lições que precisam ser compreendidas também para a eleição de daqui a dois anos. 

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