10 DE JULHO DE 2020
ARTIGOS
DE COSTAS PARA O BRASIL
Calcula-se que 70% do PIB dos países industrializados é composto pela nova economia do conhecimento. Mais da metade das exportações desses países já é de bens não tangíveis. Lideram a indústria 4.0 e a internet das coisas (IoT), conectando do simples ao mais complexo equipamento e expandindo as possibilidades de transferência de dados e conectividade entre as coisas e os seres vivos. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é a alavanca das economias do conhecimento.
No Brasil, os recursos em P&D aumentaram de R$ 3 bilhões para mais de R$ 8,5 bilhões no período de 2002 a 2010. A partir de 2016 começaram a recuar. No ano passado, o orçamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), que deveria ser de R$ 4,3 bilhões, despencou para R$ 600 milhões. Uma das consequências foi a suspensão de aproximadamente 15 mil pesquisadores bolsistas do CNPq e da Capes. Ocupávamos a 47ª posição do Índice Global de Inovação, despencamos para a 66ª. Estamos abaixo de Chile (51ª) e Uruguai (62ª).
A Ceitec, criada em 2008 e sediada em Porto Alegre, é a única empresa no Brasil que atua na produção de circuitos integrados. Possui em seu portfólio 40 patentes e diversos produtos desenvolvidos. Conta com um quadro funcional de excelência e é motivo de atração de investimentos privados.
A tentativa de liquidá-la, pelo governo federal, encaixa-se na operação de desmonte da pesquisa e desenvolvimento tecnológico do país, patrocinada pelo presidente e uma parcela míope do empresariado, que não medem esforços para reduzir o país a uma grande fazenda exportadora de produtos agropecuários e de matéria-prima.
Amplos setores do mundo acadêmico, empresarial e de organizações da sociedade civil do RS se mobilizam para impedir que um empreendimento de tamanha envergadura como a Ceitec seja arruinado por um presidente que governa de costas para a soberania do Brasil, enquanto é devorado por águias astutas e sedentas por abocanhar o pouco de independência tecnológica que ainda nos resta.
AMARILDO CENCI
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