quinta-feira, 9 de julho de 2020


09 DE JULHO DE 2020
OPINIÃO DA RBS

ADVERTÊNCIA PELO AMBIENTE


A carta em que 38 representantes de grandes empresas nacionais e multinacionais que operam no Brasil pedem ao presidente do Conselho da Amazônia, o vice-presidente Hamilton Mourão, mudanças na política ambiental do país, é um eloquente sinal de alerta para a autofagia promovida pelo presidente Jair Bolsonaro na imagem nacional. O documento, assinado inclusive por entidades ligadas ao agronegócio, cita a necessidade de medidas de combate ao desmatamento, inclusão social de comunidades locais para garantir a preservação de florestas e valorização e proteção da biodiversidade, entre outras reivindicações. A persistência do quadro atual, advertem, é ruim não apenas para a reputação brasileira, mas tem grande potencial de prejudicar negócios.

Felizmente há no governo federal uma ala sensata e pragmática, representada por exemplo pelo próprio Mourão e pela ministra da Agricultura, Tereza Cristina, que há muito percebeu os danos causados à economia brasileira pela leniência com os crimes ambientais. Até agora, porém, eles não tiveram força para impor uma guinada de 180 graus nas políticas dirigidas pela visão equivocada do presidente Bolsonaro, do chanceler Ernesto Araújo e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles - este, aliás, é inclusive alvo do Ministério Público Federal, que pede o seu afastamento, por levar adiante iniciativas nocivas à área que deveria proteger. 

Esse trio, com a colaboração de outros adeptos de teorias da conspiração, se alinha em ideias e ações que desprezam a dimensão da importância do meio ambiente para a imagem do Brasil e para o futuro do país e do próprio planeta. Não surpreende que Bolsonaro, mesmo antes da pandemia, não tenha sido convidado a frequentar nenhum salão da Europa Ocidental e tenha sempre sua figura associada à degradação ambiental e ao pouco-caso com as populações indígenas. 

Com seu desdém pela proteção à natureza, o presidente desfez em um ano e meio décadas de construção de uma imagem do Brasil calcada em um povo alegre, amante da cultura e da música que vive em um lugar encantador por suas belas paisagens adornadas pelo verde. Deu lugar à percepção - ainda que às vezes injusta, por generalizada - de devastação da Amazônia para a ganância de uns poucos desmatadores.

Mourão está imbuído em reverter esse péssimo conceito, mas não conta com a questão central: a simbologia que manda um recado ao mundo. Presidentes anteriores tiveram essa clara dimensão. Fernando Collor de Mello nomeou o ambientalista José Lutzenberger para a Secretaria de Meio Ambiente e atraiu a Eco 92, enquanto Luiz Inácio Lula da Silva trouxe para seu ministério a também internacionalmente reconhecida Marina Silva. O vice-presidente e a ministra da Agricultura têm um longo caminho pela frente para dar vazão às legítimas angústias do empresariado brasileiro e do Exterior. O alerta, é preciso lembrar, não é novo. 

Há poucas semanas, um grupo de investidores internacionais que gere US$ 3,7 trilhões em ativos chamou a atenção para o mesmo problema, em carta aberta enviada a embaixadas brasileiras em diversos países. Ameaçaram inclusive abandonar negócios estabelecidos no Brasil caso não ocorra uma reviravolta na política ambiental. O risco de prejuízos para o país é real. Mais do que palavras, portanto, o governo brasileiro precisa, de forma urgente, implementar ações e apresentar resultados.

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