ELIANE
CANTANHÊDE
Aos 45 do segundo tempo
BRASÍLIA
- Como previsto, o governo tentou desmentir a manchete de segunda da Folha
sobre a reunião de emergência do setor elétrico marcada para ontem para
discutir o nível preocupante dos reservatórios, ou o que o setor privado vem
chamando, talvez com exagero, de "risco de racionamento".
Desmentir
notícias desconfortáveis, aliás, é comum a todos os governos: "O que é bom
a gente mostra, o que é ruim a gente esconde".
Por
isso, guardei uma carta, literalmente, na manga: o e-mail enviado por um dos órgãos
participantes às 17h56 da última sexta-feira: "A Câmara de Comercialização
de Energia Elétrica - CCEE informa aos agentes que a 53ª Assembleia Geral
Extraordinária foi transferida para o dia 14 de janeiro [...]. O adiamento deve-se
à coincidência da data anterior [9/1] com a reunião do Comitê de Monitoramento
do Setor Elétrico (CMSE), convocada pelo Ministério de Minas e Energia".
Não
se desmarcam assembleias gerais do dia para a noite, porque elas custam um
dinheirão, envolvem dezenas de pessoas na organização, centenas de convidados e
deslocamentos. A CCEE só fez isso porque foi convocada de última hora, cinco
dias antes, para a reunião de Brasília.
O
governo, porém, insiste que é coincidência que a reunião ocorra no meio do
turbilhão -e da assimetria das chuvas. O ministro Lobão até me disse que estava
marcada havia "um ano". Para comprovar, me remeteu para o cronograma
de reuniões no site do ministério.
Sim,
estava lá, mas o cronograma foi postado no site precisamente às 15h14min30s de
segunda, dia 7, horas depois de a manchete da Folha sacudir o governo, o setor,
talvez o leitor/consumidor.
Há muito
o que discutir: as falhas do sistema, a falta de planejamento, a birra de são
Pedro, os custos das térmicas e, enfim, como ser transparente com indústrias,
concessionárias e usuários. Aliás, uma obrigação de qualquer governo.
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