terça-feira, 8 de janeiro de 2013



08 de janeiro de 2013 | N° 17306
PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES (interino)

E os torcedores?

Agora, bateu saudade da Coreia. Não da Coreia do Norte, daquele gordinho que imita o penteado do Chico César. Mas da Coreia do Sul, a nossa, aqui do Beira-Rio. Não sinto saudade como frequentador – estive três vezes ali como repórter –, mas como espectador, de ver o povo da Coreia.

Sou gremista e me infiltrei na Coreia algumas vezes para saber como o povo via o jogo. Lembro de um torcedor que me disse:

– Eu ouvia o som da chuteira do Valdomiro cortando a grama, quando ele fazia um cruzamento.

Via-se o campo com os olhos ao nível da grama. Conversava-se, debatia-se o jogo e o que estava fora do jogo muito mais do que se via o jogo. Numa das minhas idas, dois torcedores confabulavam num cantinho sobre mulheres, e o jogo corria:

– E tu vai desistir da mina, meu?

O outro admitiu que já tinha desistido, da mina e do jogo. Fumava-se muita maconha na Coreia (os moralistas que não vejam isso como denúncia, porque todo mundo sabe que fumavam maconha na Coreia e ainda fumam em todos os estádios).

E alguns achavam que dialogavam com os jogadores:

– Caçapaaaava, sobe menos, volta. Vollllta, não pensa que tu é o Falcão.

E o Caçapava voltava. Claro que a Coreia, um fosso para acomodar os pobres, não poderia continuar existindo. Mas o que quero dizer é que não só no Beira-Rio, mas também na Arena do Grêmio, não se sabe mais qual será o lugar do povo.

Ouvi um conselheiro do Inter dizendo que talvez o povo tenha que ser acomodado atrás de uma das goleiras. No Grêmio, os ingressos mais baratos são para a Geral e parte do quarto andar. Mas todos são lugares para remediados, não são para o povão. O povão há muito não ia a jogos aqui, no Maracanã, no Mineirão. Só ficou pior. É um paradoxo: os estádios aproximaram o povo do gramado, o que é bom, mas o povo afastou-se ou foi afastado dos estádios.

Os estádios sempre tiveram torcedores bem acomodados, chupando picolé, ronronando, às vezes cochilando, como fazem os que vão aos jogos de beisebol nos Estados Unidos. Mas, enquanto uns chupavam picolé, a maioria torcia.

Agora, a maioria chupa picolé. Os estádios poderão ficar frios como a Arena ficou depois daquela briga da Geral na inauguração. Com o esvaziamento da Geral, a Arena virou o Teatro dell’Opera di Roma.

Alguém pode dar um jeito? A Arena é monumental, confortável, bonita, tudo de bem bom. Dizem que o Beira-Rio também ficará lindo com as reformas. Mas alguém terá que pensar onde acomodar o povo, esse que ainda não é nem classe C. Esse povo sustentou o futebol no Brasil durante décadas.

Podem dizer que não há mais torcedores pobres como aqueles que apareciam nos filmes do Canal 100 no Maracanã. Será? Há o que fazer? Se não há, então vamos chupar picolé.

Que lástima. Na lista das gurias da Rádio Gaúcha, esqueci as comentaristas do primeiríssimo time e também redatoras e produtoras que vão ao ar: Tânia Carvalho (logo a Tânia!!!), Ângela Ravazzolo, Débora Morsh, Lilian Abelin, Evelin Argenta, Elisandra Borba, Mariana Gomide e Vanessa da Rocha. Como pode? Memória de homem...

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