07 de janeiro de 2013 |
N° 17305
PAULO SANT’ANA | MOISÉS MENDES
(interino)
As gurias da Gaúcha
Perguntaram a Nelson Rodrigues
por que os jornais cariocas eram tão bons. Nelson, um reacionário assumido, foi
obrigado a admitir:
– Porque as redações,
infelizmente, foram tomadas pelos anarquistas e pelos comunistas.
Os anarquistas foram extintos com
a máquina de datilografar e o mata-borrão. Pois um dia eu me perguntava como a
Rádio Gaúcha pode ser tão boa. Vinha para o jornal, ouvindo a Sabrina Thomazi,
quando tive meu momento Nelson Rodrigues: claro, a Gaúcha ficou melhor porque
foi tomada pelas mulheres.
Perguntei ao Cyro Martins,
gerente de Jornalismo da rádio, de onde saiu essa ideia. O Cyro, modesto de
Uruguaiana, emplumou-se:
– Nós, fronteiriços, sabemos
reconhecer o talento feminino.
Que time esse da Gaúcha. Teve uma
época em que as mulheres iam para a latinha (latinha, para os antigos, é o
microfone) pelo talento na modulação de vozes poderosas. No tempo em que se
dizia que uma bela voz era aveludada. Eram as locutoras. Agora, além das
locutoras, há as jornalistas de rádio.
O Domingos Martins é o cara da
gestão das locutoras, as apresentadoras que interpretam tudo, improvisam,
cantam, suam e se divertem: a Denise Regina da Cruz Paim, a Rita de Cássia
Vieira Gastal, a Janaina Juruá. Domingos se gaba de ter descoberto 46 locutoras
espalhadas pelo Brasil. Você já ouviu a Rita dizer: “precisa-se de sangue O
positivo...”. Não há quem não queira doar sangue ouvindo um apelo na voz da
Rita.
Mulheres de rádio têm nomes
poderosos. Veja, além da Sabrina, esta lista de jornalistas que você ouve todos
os dias, no Gaúcha Repórter, no Supersábado, no Chamada Geral, no Atualidades,
nos comentários, nas reportagens, na rádio na internet: Milena Schoeller,
Raquel Carneiro, Sara Bodowsky, Gabrieli Chanas, Giane Guerra, Roberta Pinto,
Georgia Santos, Renata Colombo, Rejane Costa, Andressa Xavier, Michelle
Raphaelli. E tem as multimídias Rosane de Oliveira, Carolina Bahia. E as
setoristas de futebol do Diário Gaúcho, a Christiane Matos e a Mari Mondini,
que participam do Sala de Domingo.
Se a Roberta Pinto assegurar no
ar que o último filme do Zé do Caixão deve ser visto, eu vou. E acredito se a
Giane Guerra disser (pena que ela não vai poder dizer) que daqui a pouco a
poupança voltará a render alguma coisa. As gurias da Gaúcha, cada uma a seu
jeito, são convincentes. Por quê? Porque, como diria o Nelson Rodrigues: é óbvio,
meu caro, elas têm e passam credibilidade.
O André Machado e o Claudio
Moretto me ajudaram a fazer a lista das gurias, para que eu não esquecesse de
ninguém. Eles podem não concordar, mas acho que os homens sumirão das rádios (e
também dos jornais, onde a ocupação feminina já está consumada), assim como os
anarquistas sumiram das redações do Rio.
Só não tenham pressa. Isso é
coisa para daqui a uma geração. A notícia será dada pela Milena Schoeller:
– São quatorze horas e trinta e
dois minutos: neste momento, o último homem que ainda resistia, agarrado a um
microfone...
Nenhum comentário:
Postar um comentário