03
de janeiro de 2013 | N° 17301
PAULO
SANT’ANA | MOISÉS MENDES (interino)
As
moças
Estavam
certos os que previam que Ronaldo Nazário iria se separar de Bia Antony tão
logo emagrecesse os 18 quilos estabelecidos como meta no Fantástico. É uma das
notícias de impacto do final de 2012.
Estavam
certos também os que sabiam que o Twitter substituiria todos os grandes
pensadores. Se não estivessem certos, não teríamos de brinde, quase na virada
do ano, uma tirada existencialista da Adriane Galisteu. Adriane escreveu: “Por
que a vida tem que ser um roteiro se a gente pode improvisar?”.
Sessenta
e cinco toques da mais genuína reflexão instantânea. Com síntese, com o estilo
Galisteu. E isso que ela se referia à escolha de um vestido. Tinha programado
um branco e foi de vermelho.
Peço
desculpas pelo relato, mas é só para dizer que todos nos empanturramos de
futilidades no ano que passou. Como a internet nos bombardeou com irrelevâncias,
e tudo na capa dos sites!!! O mundo emburreceu em 2012.
Todos
ficamos mais burros e só não ficamos imbecis porque esse é um estágio superior
da idiotia, como diz o Sant’Ana. Mas há quem tenha ficado mais inteligente. Vou
dar um exemplo de como um gesto singelo pode contribuir para a guerra ao modo
Galisteu de ser.
Os
gaúchos ficarão mais inteligentes com uma publicidade para TV feita para o
Banrisul. Estou fazendo propaganda para o banco? Como se fosse preciso. Estou
reconhecendo uma ousadia.
Imagino
o desgaste da decisão em torno de uma ideia provocativa. Quantas vezes a ideia
foi e veio? Quantas vezes foi bombardeada? A imagem, que você já viu mil vezes,
é a do comercial institucional “O que move você é o que move a gente”.
O
texto é edificante, fala do coração que bate forte, de veias, liberdade, amor,
paixão. São ideias-síntese que funcionam e passam o recado. E o recado é: nós
estamos sintonizados com o que você é e faz.
Mas
não é o texto o que interessa, é uma imagem. Num Estado briguento, garganteiro
e machista, essa imagem tem o poder que nenhum discurso teria em defesa da
diversidade e das diferenças. É o belo momento de duas moças de costas,
caminhando, uma com a mão na bunda da outra. Sim, sejamos claros, para que os
eufemismos não atrapalhem tudo o que a imagem quer mostrar. As moças que
namoram num campo passam rápido. Quem piscar perde a cena.
Você
deve ter um primo, um cunhado, um vizinho que não vai gostar e que pode dizer
que isso não é coisa para aparecer no institucional de uma organização séria. Mas
você, não. Você sabe que chegará o dia em que outras moças, como aquelas do
comercial, andarão de mãos pelas ruas na maior naturalidade.
A
cena dura exatamente um segundo. Esse segundo sutil, gingado, balançado, é um
dos segundos mais atrevidos da criação. Trilhões de horas de preconceito, às
vezes gritado, às vezes beiçudo e emburrado, foram peitadas por este segundo.
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