08
de dezembro de 2012 | N° 17277
NILSON
SOUZA
Pausa na
leitura
Sei
que vou complicar a tarefa do meu eventual amigo secreto, mas sinto-me no dever
de fazer esta declaração pública: não quero livro de presente este ano. Adoro
ler. Qualquer Saramago ou Isabel Allende é suficiente para me deixar feliz por
vários dias, como tem ocorrido em sucessivos Natais.
Mas,
neste ano que está prestes a terminar, talvez até de forma antecipada se o
calendário maia estiver certo, dispenso a literatura. Confesso, com absoluta
tristeza, que sequer passei pela Feira do Livro. E recusei, delicadamente, a
oferta de uma editora que me colocou à disposição todos os seus lançamentos, em
troca de um serviço prestado.
Por
que isso, agora? – devem estar se perguntando meus 17 leitores e também as
pessoas que sabem do meu apreço pela leitura. Respondo com absoluta franqueza:
porque não estou dando conta do recado. Acabo de fazer um balanço de tudo que
li neste ano e percebi que minha maior proeza foi ter chegado à última página
do Cemitério de Praga, de Umberto Eco.
Também
andei lendo crônicas de Rubem Braga, um romance atrasado de Vargas Llosa,
algumas obras técnicas do tipo O Gestor Eficaz, além de ter começado outras
leituras desinteressantes que ficaram pela metade.
Leio,
sistematicamente, quatro revistas diferentes por semana e todos os jornais que
me caem nas mãos. Mas não é isso que me desvia a atenção de obras mais
alentadas. A verdade é que fui abduzido pelo computador.
Enquanto
os livros empilham-se desordenados na estante dos não lidos, perco um tempo
enorme na frente da irresistível telinha luminosa que promete mais do que
entrega. E olha que não sou viciado em redes sociais nem em jogos. Sou apenas
curioso em relação a notícias e informações instantâneas. E gosto de espiar
pela janela do mundo que a tecnologia colocou na minha sala.
Assusta-me
pensar, a partir da minha própria experiência deste ano, que cada vez mais as
pessoas se satisfazem com a leitura rasa ou mesmo com vídeos que apenas
divertem. Penitencio-me por ter lido poucos livros nos últimos meses, mas vejo
muitos jovens – e outros nem tão jovens assim – que nem sequer se importam com
isso. Não posso deixar de me indagar: que tipo de civilização estamos formando,
com tanta tecnologia e tão pouca cultura geral? Não faltará alguém para me
responder que o Google condenou a Enciclopédia Britânica à extinção e nem por
isso o mundo ficou pior.
É
verdade, reconheço. Mas também não dá para ignorar que a humanidade só chegou
às maravilhas do mundo virtual devido ao conhecimento acumulado por gerações e
gerações de leitores de livros.
É só
uma pausa, portanto, meu caro amigo secreto. Se o calendário maia estiver
errado, no ano que vem volto a aceitar meu presente costumeiro.
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