Jaime Cimenti
Qualquer coisa serve
(É Realizações Editora, 272 páginas, R$ 49,90, tradução de Hugo Langone), de Theodore Dalrymple, pseudônimo do médico psiquiatra, escritor e colaborador de jornais e revistas Anthony Daniels, nascido em 1949 em Londres, é, em síntese, uma pausa para reflexão sobre o apodrecimento moral da cultura moderna e o efeito danoso do politicamente correto na sociedade. Para o autor, o Ocidente está atolado por uma cultura de mentira, cegueira voluntária e engano de motivação ideológica.
Além de psiquiatra, o autor é ensaísta, trabalhou em quatro continentes e atuou até 2005 no Hospital da Cidade e na Winson Green Prison, ambos em Birmingham, Inglaterra. Escreve para o City Journal; The British Medical Journal; The Times; The Observer; The Daily Telegraph e outros veículos importantes, além de ter publicado, no Brasil, pela É Realizações, os livros A vida na sarjeta; Nossa cultura. Ou o que restou dela; Podres de mimados - As consequências do sentimentalismo tóxico; Em defesa do preconceito - A necessidade de se ter ideias preconcebidas; e O prazer de pensar.
Nessa antologia de ensaios, escritos entre 2005 e 2009 para o New English Review, Dalrymple propõe aos leitores uma reflexão sobre questões sociais, políticas e filosóficas, que fazem alusões a temas como o politicamente correto entre os médicos, as falhas da Organização Mundial da Saúde; as revoltas de jovens nas periferias de Paris; mudança de sexo aos 12 anos de idade; o colapso da bolha econômica e o fracasso da justiça criminal.
Tudo parece, infelizmente, remontar à morte da honestidade. O autor não foge de polêmicas. Segundo o Daily Telegraph: "As duras verdades que ele diz são todas mais chocantes, porque a mídia, em geral, rejeita em contá-las". O Standpoint escreve: "Dalrymple não poderia estar mais longe do estereótipo de pequeno inglês conservador...Ele é nosso maior ensaísta vivo". O The Spectator, por sua vez, sentencia: "Uma rara voz de verdade".
Falando em muitos ensaios sobre as muitas facetas do mal, sobre a impossibilidade de o homem vencê-lo em definitivo e, tratando de temas como a racionalidade, a virtude da liberdade, a questão do Islã, doenças e remédios, o triunfo do mal, a bibliofilia, a biblioclastia e outras questões candentes da atualidade, o autor, mesmo sem ser um pensador sistemático e mesmo sem pretender apresentar respostas e soluções, apresenta aos leitores essa pausa para reflexão e, quem sabe, uma inspiração para futuras ações.
Num momento de tanta intolerância, de violência cotidiana e de crises mundiais, a obra de Theodore Dalrymple nos auxilia a entender o mal, ou, pelo menos, a tentar. Não é pouco.
lançamentos
Escrever para não enlouquecer (L&PM Editores, 256 páginas), de Charles Bukowski, editado por Abel Debritto, traz a correspondência do velho safado de 1945 a 1993, com ilustrações do próprio. Bukowski fala de literatura, de Hemingway, de Faulkner e outros escritores, e narra as frustrações do dia a dia.
Contos de duendes e folhas secas (Iluminuras, 132 páginas), do escritor, professor e tradutor Sérgio Medeiros, mato-grossense radicado em Florianópolis, com ilustrações de Fê, narra as histórias "folclóricas" imaginadas pelo autor. Saci, Curupira e Boitatá estão juntos com internacionais duendes coroados.
Jogo jogado e outras histórias (Libretos, 224 páginas), segundo livro de contos de Guilherme Cassel, traz sete narrativas lancinantes e febris. Crueldade, raiva, humor e dignidade estão nas histórias, que revelam a tragédia ética atual, com desesperança e esperança, com humanismo e sem ele. Bem assim.
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