29 de junho de 2016 | N° 18568
ARTIGO - LEANDRO BRIXIUS*
RELAÇÕES NADA REPUBLICANAS
No início desta semana, fomos surpreendidos com a informação de um encontro entre o presidente interino Michel Temer e seu correligionário e presidente afastado da Câmara, Eduardo Cunha, no domingo à noite. Detalhe: não constava na agenda de ambos e só ficamos sabendo por conta de vazamentos à imprensa.
Para deixar ainda mais interessante a história, o Planalto confirmou a reunião. Cunha, não. O que teriam a conversar que não deveríamos saber? Por que o deputado afastado nega o convescote? A explicação de Temer é de que trataram da sucessão da presidência da Câmara, mas podemos pensar que também seria pertinente falarem sobre a cassação do parlamentar e o processo de impeachment, não?
Esse encontro furtivo do interino faz lembrar de outra agenda oculta no Palácio do Jaburu: a visita do ministro do Supremo Tribunal Federal e presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Gilmar Mendes, em um sábado à noite, em meio a um feriadão no qual Temer estaria, oficialmente, com a família em São Paulo. Na versão relatada por ambos, o papo girou em torno de verbas para as eleições municipais, mas nas duas Cortes correm processos de interesse particular do interino: Lava-Jato, impeachment e cassação da chapa Dilma- Temer de 2014.
Aos poucos, fica- se sabendo de outros encontros, alguns extraoficiais, do titular provisório do Planalto. No fim de semana passado, para intensificar o corpo a corpo com senadores em busca de votos pelo impeachment de Dilma, Temer foi ao aniversário do senador Wilder Morais, em Goiás, que ainda não revelou seu voto.
Senadores, inclusive, estão cobrando do governo interino nomeações para cargos em estatais e até mesmo o comando do BNDES em troca de apoio – e muitos são recebidos em almoços e jantares no Jaburu para tratar do assunto. Alguns já levaram o que pediram, como Romário (uma vaga na diretoria de Furnas) e Zezé Perrella (o filho, Gustavo, assumiu a Secretaria Nacional do Futebol e de Defesa dos Direitos do Torcedor).
Os encontros, furtivos ou não, de Temer mostram a dedicação a uma prática que deveria ser sepultada em nome da transparência e melhoria da gestão pública no país. Negociações na penumbra ajudaram a instalar a corrupção no Brasil, justamente o que ansiamos que fique para trás em uma nova fase a ser vivida por todos nós em nossa ainda jovem democracia.
*Editor de Notícias de Zero Hora
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