segunda-feira, 6 de junho de 2016


06 de junho de 2016 | N° 18548 
CÍNTIA MOSCOVICH

CLARICE


Demorou, mas chegou: Todos os contos (Rocco, 656 páginas, R$ 47), reunião de 84 narrativas curtas de Clarice Lispector escritas ao longo de quatro décadas, organizada pelo biógrafo e pesquisador americano Benjamin Moser, acaba de ser lançada no Brasil. Por obra de Moser – autor de Clarice, uma biografia –, Todos os contos ganhou edição em 2015 nos Estados Unidos, com tradução de Katrina Dodson. Sucesso de crítica, a coletânea foi parar na lista dos livros mais importantes ano do jornal The New York Times, além de merecer o Pen Translation Prize, de melhor tradução.

Embora a Rocco publique a obra completa de Clarice desde 1999, a apresentação dos livros sempre ficou por conta de uma mesma esquálida e genérica nota prévia de Marlene Gomes Mendes, que estabeleceu os textos originais. Na nova publicação, Moser faz um alentado estudo introdutório aos contos, fato que abre maiores possibilidades de leitura.

Morta em 1977, um dia antes de completar 57 anos, Clarice é um fenômeno mundial, chegando a ter frases citadas nas tais redes sociais – a maioria delas com autoria falsa. Essa popularidade soa estranha, uma vez que sua obra está naquela categoria que leitores menos avisados classificam de “difícil”. Judia fugida da Ucrânia aos dois anos de idade, de uma beleza exótica e de uma espécie de desencanto apaixonado com a literatura, 

Clarice parecia contagiar o texto com a mesma estranheza de sua figura. Descontente com a limitação das palavras, buscando aquela simplicidade exaustiva de tão verdadeira, a escritora torcia significados, reinventava transitividades, com achados linguísticos perfeitos e epifânicos, daqueles que dá até vontade de rezar.

Em resenha para a revista Veja, o escritor Sérgio Rodrigues traz pela primeira vez a público um pensamento que sempre foi consenso entre os leitores assíduos da autora (e que sempre correu à boca pequena): Clarice era melhor como contista do que como romancista. Com a leitura de Todos os contos, que cada um chegue a sua própria conclusão.

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