sexta-feira, 3 de junho de 2016


03 de junho de 2016 | N° 18542 
MÁRIO CORSO

Homens na educação


As pautas sobre a violência contra as mulheres finalmente ganharam visibilidade. As raízes desse descalabro são muitas, mas colocaria um ingrediente não óbvio, que me parece esquecido.

O território do ensino básico no Brasil é feminino. Principalmente porque sempre desvalorizamos a educação, ficou relegada às pessoas que vão ganhar menos. Logo, ser professor das séries iniciais é profissão para mulher, somando a desvalia da escola com a do gênero.

O fato é que quase não existem homens professores. Eles somente vão sendo encontrados na medida em que nos afastamos da infância e chegamos à universidade, pois ela goza de algum prestígio.

É claro que as mulheres podem dar conta de todos os conteúdos, os homens não fazem falta, por razões intelectuais. Acontece que a escola é um laboratório social e a aquisição de conteúdos passa também por vinculações afetivas. Precisamos idealizar os mestres de alguma forma. Não somos máquinas que aceitam qualquer programação seja de quem for, nossos processos cognitivos são também amorosos.

Ao crescerem, alguns meninos começam a sentir a escola como um espaço não seu, uma extensão dos domínios da mãe, do qual ele tenta afastar-se. O colégio parece-lhe sufocante porque demasiado feminino. Diga-se que essa “opressão” involuntária, geralmente é imaginária. É aqui que entrariam os homens, ao oferecer um contraponto real, uma fonte de identificação que reequilibraria o mundo desses garotos.

Lembrem-se que muitos meninos, especialmente na periferia, crescem praticamente sem modelo masculino próximo em quem espelhar-se. Não é só na escola que educar é coisa de mulher, nos lares também, os homens relegam os cuidados educacionais às mães.

Ou seja, muitos meninos educam-se sem contato com homens. Sentem-se privados dessa presença como também de um pai em casa. Um homem criado num ambiente mais sensível não vai necessariamente ser mais atento à causa feminina. Ele pode ser ressentido por esse excesso de presença feminina que percebe como invasivo e como responsável pelo afastamento das figuras masculinas que deseja e necessita para se identificar. Claro que não é o que acontece, mas explique isso a um menino de oito ou nove anos...

O paradoxo perverso é que o brasileiro médio está afastado dos seus filhos, e os resultados adversos voltam-se contra quem está mais próximo, as mulheres. O pai abandona, a mãe segura o rojão e o resultado é o filho misógino, pois acaba identificado com a crueldade do pai à família.

Se você acha que a questão é apenas simbólica, que dá para levar assim, digo que usei a mesma lógica das críticas feitas ao ministério de pouca melanina e pura testosterona do atual governo. Não é só o ministério que deve ser plural e condizente com o país, a escola também.

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